domingo, 16 de noviembre de 2014

Imersão Linguística / "A música como recurso pedagógico na aprendizagem idiomática" / Elvas 15-16 Novembro


Mais um grupo de professores em Espanha, de Língua e Cultura Portuguesa, em actividade organizada pelo Cpr (Centro de professores e recursos) de Badajoz, no âmbito do projecto europeu Realce, estiveram em Elvas numa Imersão Linguística. Mais uma vez, os professores Nuno Borba e Dario Guerreiro trouxeram a Elvas esta iniciativa. Estive presente, dia 16 no Hotel São João de Deus, para mais uma colaboração, desta vez desenvolvendo o tema "A música como recurso pedagógico na aprendizagem idiomática" . Vale a pena colaborar com quem tanto faz pela nossa língua fora deste país.














jueves, 13 de noviembre de 2014

A TORTILHA DE BATATA - Clarinha


Estou irritadíssima, imaginem vocês, que os fotógrafos, que eram dois, um que meteu um palco com flores de papel e outro que carregava no botão da máquina, foram hoje à minha escola, e embora a minha mae pagasse onze euros pelas fotografias, mais um do que no ano passado, algumas com calendário, eles é que decidiram como eu me sentava, não me deixando escolher o meu melhor perfil, que é o esquerdo, porque no direito tenho um biquinho numa orelha igual à do meu pai. A minha avó diz que essa orelha do meu pai é em bico porque ele era um diabrete quando era pequeno, mas ele diz que essa orelha tem um bico porque a direita é o diabo. Agora se eu não gosto do biquinho da minha orelha, tenho todo o direito de a mostrar só a quem quero, seja a direita ou a esquerda, era o que faltava, e não metê-la assim na montra do calendário que os meus avós vão ter todo o ano de 2015 colado no frigorífico como o de 2014, pois é a prenda de natal que os meus pais lhes dão desde que há fotografias na escola, já no tempo das minhas irmãs grandes era igual.
Todos os meninos e meninas tiraram fotografias, e os professores também, sozinhos e em grupo, de pé e sentados, de todas as maneiras como no casamento da minha prima Clotilde, que já está divorciada, que tirou fotografias em todo o lado, até agarrada ao telefone da sala e à cortina do quarto.
Só é pena que nem todos os meninos e meninas da minha escola possam como eu levar as fotografias para casa, porque os pais de alguns não têm dinheiro para as pagar. Eu acho mal, afinal aquilo não é um colégio como o da minha prima Leonor, com nome de princesa, que os meus tios pagam para ela lá estar porque o meu tio é médico e a minha tia é enfermeira mulher de médico e não tem mais filho nenhum. A minha é uma escola do governo e deveria ser igual para todos os que lá andamos.
A minha mae, já anda um pouco farta de eu ser assim e está sempre a dizer-me, cada vez te pareces mais com o teu pai e como ele não sairás nunca da cepa torta, e hoje quando estava a comer na mesa da cozinha e lhe ia contar o que pensava das fotografias, disse-me:
- Come e cala-te.
O meu tio gordo, irmão do meu pai, diz muitas vezes que nos temos de calar para podermos comer e dar de comer aos nossos. Também outro dia o meu pai disse que se não nos tivesse que dar de comer, a mim e à minha irmã que as outras já comem sozinhas, lhes cantaria as quarenta. Tentei que o meu pai me dissesse mais sobre os quarenta, mas ele disse-me que um dia quando eu fosse grande iria perceber, porque as crianças não têm entendimento para números tão grandes, eu apesar de tudo, descobri que há uma relação entre as palavras e os alimentos e quando na mesa da cozinha insisti com a minha mae que o euro que o senhor fotógrafo este ano leva a mais a cada menino, que não é nada, assim como o euro do senhor Costa amigo do meu pai leva aos turistas, multiplicado por mais de mil meninos e meninas que tem o agrupamento, dava para pagar as fotografias dos meninos sem dinheiro, pois os senhores professores vão ter as fotografias de borla. Aí sim, a minha mae zangou-se mesmo e já com a voz muito alta ainda conseguiu gritar:
- Cala-te, já te disse e come Clara (chamou-me Clara e não Clarinha).
Eu então calei-me e comi tudo, não fosse por causa das palavras conseguir fazer desaparecer da mesa a tortilha de batata.

CLARINHA

PS 
Esta redacção foi vitima de tentativa de censura por parte do meu pai, que me disse que as fotografias dos professores não tinham calendário. Embora saiba que não têm calendário pois ganham o mesmo que há uma data de anos atrás, esta tentativa foi inadmissível.
Clarinha.