viernes, 12 de junio de 2015

O QUE FOSTE LÁ FAZER?



Ficaram em baixo, mãos no alto acenando e reprimindo o choro. É a última imagem que Carlos Novais recorda da família.


Levantou-se e entrou numa casa de banho minúscula, inventada para caber ali. Sentou-se apertado na sanita e ficou, olhar na portinha, mesmo na frente, sozinho, meio perdido nos balanços. Puxou o autoclismo e caiu-lhe na frente uma mesa de mudar fraldas. Não deveria ser aquele o botão. Fechou-a. Olhou para o lado e viu-se gigante num espelho de lavatório que o surpreendeu pela proximidade. Que fazes tu aqui? E começou a rir à gargalhada. De repente parou. Encostou as duas mãos ao espelho ficando a imagem no meio, como um abraço limitado por incompleto. Uma tristeza apertou-lhe o peito, com dentes que mordiam, por dentro. Não conteve o choro alto que se misturava com o forte ruído de fundo. Só nesse instante se deu conta, que tinha sobrevoado o Egipto e rumava a Timor Leste a oito mil pés de altitude. Bateram à porta, disseram-lhe em inglês que havia turbulência e tinha que sair. Abriu a portinha estreita e a hospedeira, habituada tanto a lágrimas como a risos, mandou-o sentar e apertar o cinto. Acompanhou-o ao lugar, confirmou se o cinto estava bem colocado, e tocou-lhe o ombro. Aquele toque, sentiu-o como uma carícia de toda a gente que amava e tinha deixado, a caminho do desconhecido.

(...)

In O Que Foste lá Fazer?
... em construção...

No hay comentarios:

Publicar un comentario