Ficaram em baixo, mãos no alto acenando e reprimindo o choro.
É a última imagem que Carlos Novais recorda da família.
Levantou-se e entrou numa casa de banho minúscula, inventada
para caber ali. Sentou-se apertado na sanita e ficou, olhar na portinha, mesmo
na frente, sozinho, meio perdido nos balanços. Puxou o autoclismo e caiu-lhe na
frente uma mesa de mudar fraldas. Não deveria ser aquele o botão. Fechou-a.
Olhou para o lado e viu-se gigante num espelho de lavatório que o surpreendeu
pela proximidade. Que fazes tu aqui? E começou a rir à gargalhada. De repente
parou. Encostou as duas mãos ao espelho ficando a imagem no meio, como um
abraço limitado por incompleto. Uma tristeza apertou-lhe o peito, com dentes
que mordiam, por dentro. Não conteve o choro alto que se misturava com o forte
ruído de fundo. Só nesse instante se deu conta, que tinha sobrevoado o Egipto e
rumava a Timor Leste a oito mil pés de altitude. Bateram à porta, disseram-lhe
em inglês que havia turbulência e tinha que sair. Abriu a portinha estreita e a
hospedeira, habituada tanto a lágrimas como a risos, mandou-o sentar e apertar
o cinto. Acompanhou-o ao lugar, confirmou se o cinto estava bem colocado, e tocou-lhe
o ombro. Aquele toque, sentiu-o como uma carícia de toda a gente que amava e
tinha deixado, a caminho do desconhecido.
(...)
In O Que Foste lá Fazer?
... em construção...
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