sábado, 20 de diciembre de 2014

UM ADEUS PELA RÁDIO ÀS GENTES DA GENTE DA MINHA TERRA


Dia 27 de Dezembro, 2 horas com vocês na Rádio da minha terra. 

Uma forma que aceitei também, para me despedir de todos/as. 


Um grande abraço para leitores/as e amigos/as.
Para a Rádio Portalegre um obrigado pelo convite e votos de um excelente trabalho informativo nos próximos anos que se adivinham difíceis, mas possíveis, no grande desafio de devolver a Cidade ao lugar que sempre ocupou, no panorama agregador e imagem de um Distrito, que Lisboa tem condenado violentamente ao isolamento.

(...)

domingo, 16 de noviembre de 2014

Imersão Linguística / "A música como recurso pedagógico na aprendizagem idiomática" / Elvas 15-16 Novembro


Mais um grupo de professores em Espanha, de Língua e Cultura Portuguesa, em actividade organizada pelo Cpr (Centro de professores e recursos) de Badajoz, no âmbito do projecto europeu Realce, estiveram em Elvas numa Imersão Linguística. Mais uma vez, os professores Nuno Borba e Dario Guerreiro trouxeram a Elvas esta iniciativa. Estive presente, dia 16 no Hotel São João de Deus, para mais uma colaboração, desta vez desenvolvendo o tema "A música como recurso pedagógico na aprendizagem idiomática" . Vale a pena colaborar com quem tanto faz pela nossa língua fora deste país.














jueves, 13 de noviembre de 2014

A TORTILHA DE BATATA - Clarinha


Estou irritadíssima, imaginem vocês, que os fotógrafos, que eram dois, um que meteu um palco com flores de papel e outro que carregava no botão da máquina, foram hoje à minha escola, e embora a minha mae pagasse onze euros pelas fotografias, mais um do que no ano passado, algumas com calendário, eles é que decidiram como eu me sentava, não me deixando escolher o meu melhor perfil, que é o esquerdo, porque no direito tenho um biquinho numa orelha igual à do meu pai. A minha avó diz que essa orelha do meu pai é em bico porque ele era um diabrete quando era pequeno, mas ele diz que essa orelha tem um bico porque a direita é o diabo. Agora se eu não gosto do biquinho da minha orelha, tenho todo o direito de a mostrar só a quem quero, seja a direita ou a esquerda, era o que faltava, e não metê-la assim na montra do calendário que os meus avós vão ter todo o ano de 2015 colado no frigorífico como o de 2014, pois é a prenda de natal que os meus pais lhes dão desde que há fotografias na escola, já no tempo das minhas irmãs grandes era igual.
Todos os meninos e meninas tiraram fotografias, e os professores também, sozinhos e em grupo, de pé e sentados, de todas as maneiras como no casamento da minha prima Clotilde, que já está divorciada, que tirou fotografias em todo o lado, até agarrada ao telefone da sala e à cortina do quarto.
Só é pena que nem todos os meninos e meninas da minha escola possam como eu levar as fotografias para casa, porque os pais de alguns não têm dinheiro para as pagar. Eu acho mal, afinal aquilo não é um colégio como o da minha prima Leonor, com nome de princesa, que os meus tios pagam para ela lá estar porque o meu tio é médico e a minha tia é enfermeira mulher de médico e não tem mais filho nenhum. A minha é uma escola do governo e deveria ser igual para todos os que lá andamos.
A minha mae, já anda um pouco farta de eu ser assim e está sempre a dizer-me, cada vez te pareces mais com o teu pai e como ele não sairás nunca da cepa torta, e hoje quando estava a comer na mesa da cozinha e lhe ia contar o que pensava das fotografias, disse-me:
- Come e cala-te.
O meu tio gordo, irmão do meu pai, diz muitas vezes que nos temos de calar para podermos comer e dar de comer aos nossos. Também outro dia o meu pai disse que se não nos tivesse que dar de comer, a mim e à minha irmã que as outras já comem sozinhas, lhes cantaria as quarenta. Tentei que o meu pai me dissesse mais sobre os quarenta, mas ele disse-me que um dia quando eu fosse grande iria perceber, porque as crianças não têm entendimento para números tão grandes, eu apesar de tudo, descobri que há uma relação entre as palavras e os alimentos e quando na mesa da cozinha insisti com a minha mae que o euro que o senhor fotógrafo este ano leva a mais a cada menino, que não é nada, assim como o euro do senhor Costa amigo do meu pai leva aos turistas, multiplicado por mais de mil meninos e meninas que tem o agrupamento, dava para pagar as fotografias dos meninos sem dinheiro, pois os senhores professores vão ter as fotografias de borla. Aí sim, a minha mae zangou-se mesmo e já com a voz muito alta ainda conseguiu gritar:
- Cala-te, já te disse e come Clara (chamou-me Clara e não Clarinha).
Eu então calei-me e comi tudo, não fosse por causa das palavras conseguir fazer desaparecer da mesa a tortilha de batata.

CLARINHA

PS 
Esta redacção foi vitima de tentativa de censura por parte do meu pai, que me disse que as fotografias dos professores não tinham calendário. Embora saiba que não têm calendário pois ganham o mesmo que há uma data de anos atrás, esta tentativa foi inadmissível.
Clarinha.           

viernes, 31 de octubre de 2014

A TV NA MINHA ESCOLA - Clarinha



31 de Outubro de 2014

Uns senhores da televisão foram à minha escola. Fizeram muitas perguntas aos meninos mas as respostas eram sempre iguais "sim" e "não", porque os meninos e as meninas da minha escola são muito envergonhados. Os meninos e as meninas que aparecem na televisão espanhola, que nós aqui vemos mais do que a portuguesa, falam pelos cotovelos. Se estamos aqui tão perto, porque é que eles são menos envergonhados? Pus-me a pensar e acho que sei porquê, porque a minha prima Pilar é espanhola e eu conto-lhe coisas da minha escola e ela a mim da escola dela, e na escola dela eles falam mais e nós aqui somos mais barulhentos. Ela diz-me que na escola dela, pintam, cantam, trabalham em grupo e fazem teatro. Eu na minha escola não pinto, não canto, estou todo o dia numa mesa com dois lugares, todos em fila, como na missa, e teatro, só sabemos o que é quando algum menino chora porque não sabe a tabuada e a professora lhe diz:
-Não estejas a fazer teatro!
A escola da minha prima é mais alegre e os meninos não inventam dores de barriga para não ir.
Na minha escola não há teatro, nem danças, nem cantigas, nem muitas vezes papel higiénico, mas sabemos muito bem fazer contas e ler, e os livros têm cores feitas por outras pessoas.
- Não há teatro na tua escola Clarinha? Então ainda no Natal entraste no grupo da poesia...
Respondi à minha professora que sim, mas foi só para ela ficar contente, mas cá para mim, sei que não há, aquilo que eu fiz no Natal, faço todos os anos, é decorar uma poesia com pastores, ovelhas, reis magos e anjinhos e depois dizê-la no microfone, mas sei que isso não é teatro.
Na escola da minha prima aprende-se sempre com alegria porque a escola é uma festa.
Se os senhores da televisão falam tão bem, é porque na escola deles havia teatro e canções e variedades e tinta e pincéis e fantoches e por isso não têm vergonha de falar. Os senhores do governo, também não têm vergonha, pelo menos na cara como diz o meu pai, e por isso também falam muito bem mas querem-nos calados para aprendermos quando formos grandes a ouvir com atenção o que eles dizem, que é a maneira mais fácil de fazer como eles querem e não de fazermos como nós pensamos, porque já não sabemos pensar.
O meu pai disse-me que a escola em Portugal há uns anos, não muitos, era como a escola da minha prima e que os meninos e os professores eram todos felizes e até faziam assembleias de escola com delegados de turmas eleitos enquanto agora levam faltas por irem a manifestações por não terem professores.
Acho que nasci atrasada e por isso querem que pertença ao grupo dos "sins" e dos "nãos".
Nasci atrasada, disso não tenho culpa, mas não quero ficar atrasada a comparar com a minha prima Pilar, por isso, quer lhes goste quer não, falo e canto, e faço danças no recreio com as minhas amigas com as musicas da Violleta, que tirando isso só temos o avô cantigas que é já avô de verdade e um professor gordo com uma viola que canta bem mas toca muito mal e desenhos, em casa, com as minhas irmãs. Lá na escola não podemos, porque temos muitas fichas para fazer, todos os dias, de português e matemática para os exames que vêm de Lisboa no final do ano, guardados pela Guarda Nacional Republicana, porque são muito importantes.
Gosto de imaginar e de inventar, e de aprender brincando que é a maneira mais fácil de aprender.
O que mais me preocupa é que eles não vejam que só tenho oito anos e se não me dão tempo de inventar agora, nunca pertencerei a um país de inventores e eu, quando for grande quero ser escritora e cientista e nunca vi um cientista sem imaginação nem um escritor que na escola só tenha feito cópias.
Não me compreendem?
Felizmente que os meus pais e irmãs mais velhas, sim, senão, já tinha perdido a esperança como a minha avó que toma comprimidos para dormir.

CLARINHA


jueves, 23 de octubre de 2014

NOVA IMERSÃO NA LÍNGUA E CULTURA PORTUGUESA / ÉVORA



Nova Imersão na Língua e Cultura Portuguesa este fim-de-semana em Évora, no Hotel D. Fernando, promovido pelo Cpr (Centro de Professores e Recursos de Mérida) no âmbito do Projecto Europeu Realce. Convidado novamente desta vez pelo Cpr/Mérida, será um prazer colaborar com os professores espanhóis que trabalham no seu país o idioma português. Excelente trabalho organizativo do professor/formador Rui Carmo.



(... daremos notícias...)


martes, 21 de octubre de 2014

O PLÁGIO - Clarinha


21 de Outubro de 2014

Hoje apanhei uma vergonhaça.
Fiquei vermelha como os tomates que a minha avó diz estarem cada vez mais caros e como os pimentos que o meu avô tinha como desporto de reformado e hoje como trabalho pois tem que os vender na mercearia do Senhor Paulino, para com esse dinheiro comprar outras coisas, como gasolina para me ir levar à escola e à ginástica que é paga pelo meu outro avô senão já lá não andava. Os meus pais cada vez nos pagam menos coisas, porque descobri que o nosso carro e a nossa casa afinal só são nossos no papel ou quando os meus pais falam deles com os amigos, porque na realidade não sei de quem são porque às vezes ouço o meu pai dizer já paguei a casa este mês e a minha mãe, já paguei o carro este mês, então porque as coisas não podem ser pagas tantas vezes eu penso que andamos num carro de aluguer e vivemos numa casa de renda e os meus pais não querem que se saiba.
Hoje apanhei uma vergonhaça e fiquei encarnada como um tomate como disse lá encima, porque olhei para o trabalho da Guidinha para ver se as minhas respostas eram iguais às dela e uma das minhas professoras substitutas, que nunca é a mesma e está lá à espera que o ministério nos dê uma para todo o ano, mandou um grande berro:
- CLARA (quando se zangam comigo nunca me chamam Clarinha) estás a copiar, coisa feia!!
Ufa. Se tivesse um buraquinho metia-me nele, porque ela continuou:
- Quando o teu pai te vier buscar à escola, digo-lhe, parece mentira, não tens vergonha?
Não abri o bico até ao almoço, com medo do meu pai e só fiquei mais aliviada quando ele disse à minha professora, substituta da que ainda não veio, que era o esperado em quem tem como responsáveis pelas escolas, pessoas que fazem plágio e ninguém as demite, saem pelo seu pé e dizendo que são problemas pessoais.
Não percebi e fiquei muito curiosa sobre o que é isso do plágio.
À tarde fui ao computador e descobri que plágio é copiar e que esse senhor que era chefe das escolas copiou e mostrou como se tivesse sido feito por ele. Eu não fiz isso, só espreitei para saber se a Guidinha tinha feito o mesmo que eu. Quem devia estar vermelho como os tomates caros da minha avó e os pimentos que são agora carga de trabalhos para o meu avô era esse senhor e não eu. Afinal, se viesse viver aqui para o pé de nós, era até perigoso, pois poderia roubar os pimentos ao meu avô, dizer que eram dele e ir vendê-los à mercearia do senhor Paulino.

CLARINHA




IMERSÃO LINGUÍSTICA DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS EM EXTREMADURA




Hoje foi o meu dia de dar uma mãozinha à Imersão Linguística que os professores de Língua Portuguesa de Extremadura, fizeram em Elvas por decisão do Cpr (Centro de Professores e Recursos de Badajoz). Os organizadores, Dario, Nuno e Rui estão de parabéns. Os custos foram assumidos por um projecto transfronteiriço europeu. Às vezes apetece-me perguntar, se estamos deste lado da fronteira, que é feito dos recursos que, julgo eu, também devem ter sido atribuídos a esta banda? Trata-se do projecto Realce, por aqui, até ao momento não vimos realçar nada.






jueves, 16 de octubre de 2014

IMERSÃO LINGUÍSTICA EM PORTUGAL






Dia 19 de Outubro, estarei no Hotel S. João de Deus em Elvas numa imersão na Língua Portuguesa com professores de português que nos divulgam na Estremadura Espanhola (EXTREMADURA). 
É um privilégio poder colaborar com o Centro de Recursos de Professores daquele lado do Guadiana. 
Talvez uma das últimas actividades em que colaborarei deste lado do mundo... durante um tempo. 
Faz-se mais pela nossa Língua lá fora do que cá dentro.



(...Daremos  mais notícias deste evento...)




UM ADEUS MOLHADO












































































































































































































































































































Apesar da chuva, forte e sem descanso, aí estivemos. Obrigado a todos/as. 
Quem tiver fotos, meta-as no enlace acima.
 As que tenho são de telefone pobrezinho.
 Forte abraço.


Prof. Lurdes Ribeiro com Aragonez Marques












(... Continua...)


viernes, 10 de octubre de 2014

A MINHA CASA E A MINHA ESCOLA - Clarinha


(Não sei o dia de hoje, mas sei que é Outubro)

Que chato anda o meu pai, por Deus. Anda irritadiço e leva o dia a falar de um coelho.  Raios parta o coelho para aqui, raios parta o coelho para ali. Ontem à noite soube que o coelho era uma pessoa e por isso mesmo, vou passar a escrevê-lo com letra grande porque a minha professora do ano passado disse-me que os nomes das pessoas se escreviam com maiúscula. Quando disse ao meu pai que o coelho dele passava a ser Sr. Coelho por ordem da minha professora do ano passado que era quem sabia de gramática, pelo menos fazíamos fichas todos os dias para os exames, ele disse-me que isso era para as pessoas, mas que este coelho não era homem não era nada, e só por causa dele, estávamos como estávamos. A minha mãe não gostou que o meu pai me dissesse aquilo e gritou-lhe da cozinha:
- Américo, deixa-te dessas coisas que a criança não entende.
Pensa a minha mãe que eu não entendo, mas está redondamente enganada. Sei muito bem que desde que se ouve o nome do Sr. Coelho cá em casa, passou a haver menos fiambre e a comerem-se mais torradas com manteiga primeiro e com margarina vaqueiro depois. Também sei que desde que o Sr. Coelho passou a ser falado cá em casa, o meu pai deixou de nos comprar prendas no Natal e nunca mais fomos de férias que já nem me lembro como é a praia e os meninos da minha escola comem na cantina também nas férias, nos sábados e nos domingos. E também sei que o Sr. Coelho tem um primo, ou alguém da mesma família que se chama Crato, que não sabe nada de contas, mas que era muito bom em matemática e por isso foi para ministro e que por isso eu ainda não tenho professora da segunda classe como diz o meu pai embora eu lhe diga sempre do segundo ano. Eles lá fingem que está tudo bem para os nossos pais não saberem e mandam-nos professores suplentes para nos guardarem, mas não para nos ensinar. Este ano já tive três e uma delas era professora do ensino secundário, do liceu, vamos, e a pobre passou as passinhas do Algarve. Eles pensam que isto de dar aulas aos gaiatos é coisa fácil e toda a gente o pode fazer.
Os adultos não têm razão em dizerem que por causa do Sr. Crato, amigo do Sr. Coelho, os meninos não têm professores na escola, pois pelo menos na minha, já tive três, mas nenhum deles sabe os nossos nomes de memória, e tratam-nos por "tu aí", razão porque sabemos que não é o nosso professor de verdade mas alguém, que nos guarda para os nossos pais poderem trabalhar e os seus patrões não começarem a refilar. Os nossos pais também refilam, mas porque são eles que ouvem o refilar dos chefes deles no trabalho.
Aqui em casa, agora há mais gritaria. Toda a gente ralha e até a minha irmã mais pequena se atreve a dizer que não gosta da sopa. A minha mãe diz que qualquer dia se rende, mas eu penso que já se rendeu e não acredita que o Sr. Coelho e o Sr. Crato saiam tão depressa cá de casa.
É nestas alturas, que tenho muitas saudades da casa da minha avó. Pena que também ela já não tenha tantas coisinhas boas no frigorífico, miminhos, como o bolo de noz que nunca mais fez. A minha mãe pensa que eu não sei, mas eu sei muita coisa que não digo, mais do que ela pensa e por isso até sei que é por causa do Sr. Coelho e do Sr. Crato e de outros senhores e senhoras que não sei o nome, mas que são da família deles, que o meu pai se vai embora. Também sei que quando eles forem embora também, e os que forem para o seu lugar não forem iguais a eles, o meu pai  volta e poderei comer fiambre, ter prendas no Natal, ir à praia e comer bolo de nozes em casa da minha avó. Eu pensava que o bolo de nozes que a minha avó tinha sempre e agora deixou de ter, era porque Deus dá nozes a quem não tem dentes e ela agora tem uns dentes postiços, mas não, agora já percebi que o problema são de outros dentes que não os da minha avó, os dela só trabalham de dia que à noite estão no copo, os outros é que comem de dia e de noite. 

Clarinha