miércoles, 26 de febrero de 2014

CRÓNICA DE FEVEREIRO / JORNAL FONTE NOVA / ESTA MALTA PISGA-SE...




ESTA MALTA PISGA-SE…

Preocupam-nos hoje os jovens, como certamente preocupámos os nossos pais, embora tivéssemos um caminho mais fácil, cujo fim nos recompensava mais cedo ou mais tarde dos passos que se iam dando. Hoje vemo-los ir e parece-me, que foi pensado este roubo de futuro pela mão da Europa, e quem sabe, já não digo nada, se os Erasmus não fazem parte deste plano conivente, deste paguem-lhes a formação, que nós agradecemos a sua rentabilidade. Nesta sociedade não gerida por pessoas de bem, acabamos por ser obrigados a andar com a pulga atrás da orelha, e a desconfiança em quem deveríamos confiar, é generalizada transversalmente a todas as classes (porque as há), profissões (cada vez menos), amigos ( poucos cada vez mais) e idades (cada vez mais rápidas a passar). Depois, numa confusão brutal olhamos e exageramos o medo de praxes, como se todos os jovens fossem “Duxes” e todos, sem excepção, tivessem dinheiro para pagar propinas e ainda lhes sobrasse para trajes académicos. Agora o que sinto e me entristece e assusta é dar-me conta, dia a dia, que estes meninos do governo, parafraseando Lobo Antunes, são os filhos da geração que fugiu para o Brasil ou perdeu as mordomias de África. Estudaram lá fora ou em colégios privados classistas, vendo Abril como o mal dos seus progenitores e hoje, sem a mais punheteira ideia, em plano de ajuste de contas, mesmo vingativas e sujas contra todas as conquistas que outros pais da geração dos seus conseguiram, com muita coragem, para os seus filhos (julgavam), aproveitam o poder que lhes colocaram nas mãos infantis, mas cruéis. Vinga-se a Alemanha da Europa através desta juventude, filha da direita órfã da ditadura. Cobram através dos netos de Salazar, dos netos de Franco, e se o conseguirem, baterão também na França das ideias e da resistência, na Itália da boémia e do romantismo, na Irlanda que disse não e da Grécia, que morderam e não largam, raiz de uma civilização organizada, onde o latim e o grego, não são línguas mortas, mas apenas adormecidas.
Talvez por tudo isto, esta crónica do mês, se vire para realçar um grupo de jovens, daqueles que ainda se entregam à vontade de mudar o mundo, nem que seja, o pequeno mundo onde vivem.
Entregaram-nos uma peça em branco de um puzzle, uma por sala, várias por escola e pediram-nos que as crianças as pintassem com imaginação.
 O tema;  Amor.
Depois de pintadas, por meninos e meninas de todas as escolas de Campo Maior as peças foram entregues na Biblioteca Municipal.
Um autocarro da Câmara foi buscar-nos à escola no dia 14, e ao chegarmos à Biblioteca, a surpresa esperava-nos.
As peças, num profundo e lógico sentido formavam um grande coração que era em si mesmo o cenário do teatro com que a Ana Diabinho, a Paula Rodrigues, a Fátima Gaminha, a Diana Rabaça, a Andreia Carvalho, o José Marchã, o Rui Candeias e a Sónia Ribeiro nos presentearam oferecendo-nos ainda como cereja no cimo do bolo, um bailado, onde a elegância e a graça estética da Rita Antunes, deslizando em pontas nas suas sapatilhas de muitas horas de trabalho, nos enterneceram.
Quis saber o nome destes jovens, que a Câmara aproveita como recurso local e o fotógrafo, o Pedro Nicolau, mostrando a sua cumplicidade, ainda durante a tarde me enviou os nomes e uma série de fotografias.
Senhora Vereadora da Cultura Isabel Raminhas, você tem muita sorte de contar com esta rapaziada e muito mérito por nos deixar sentir que a juventude está viva e muito distante das águas do Meco.
Sinto-me na obrigação de agradecer, do alto da minha escola embrenhada nas metas e objectivos das cargas de matemática e linguística formal, formatizada por acordos de ortografia obrigatórios, ameaçada por exames e avaliações destruidoras do trabalho em grupo, no privilégio (dizem) da individualização, da competitividade, espaço cinzento e sem brilho, sem gosto e sem festa, por nos terem oferecido aquilo que falta à escola actual: Arte, Criatividade e Amor.
Acarinhemos estes jovens, últimos filhos de uma escola hoje amordaçada e apenas com meia dúzia de resistentes. Se o não fizermos, partirão, num misto de duas canções de Zeca Afonso, eles comem tudo e ei-los que partem, e mesmo que o ultimo a sair não apague a luz, não importa, já estará tudo às escuras como a cegueira de Saramago.
Eles pisgam-se, e que autoridade moral temos nós, permissores desta invasão de assaltantes do país, observadores impávidos e serenos, imóveis, silenciosos, acomodados, sentados como a nêspera da cadeira do poeta, esperando ser comida, cagados de medo, para vergonha dos nossos egrégios avós, contra os canhões marchar, marchar, para lhes dizermos que o não façam?
Esta malta pisga-se… e só ficaremos os cotas, sem reformas e sem filhos.
Se não acariciarmos estes putos grandes, para que pelo menos regressem, restam-nos os bancos do jardim.



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