martes, 11 de febrero de 2014

A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL / ( Um cheirinho...)


Está quase terminado e corrigido o novo livro
A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL

( Um cheirinho...)


(...)
Fernando Mata acabou professor por amor. Com 15 anos, viveu o seu primeiro romance de borboletas e água das pedras com a filha de um funcionário público. Com dois anos de mãos dadas escondidos nos jardins públicos, ou descendo e subindo as ruas lado a lado, confessaram um ao outro futuros eternos. Quando a escola do Magistério Primário se estendeu da capital de província para a capital do distrito, o sonho de ser professor mostrou-se fácil à carteira do pai que assim pôde mandar estudar os filhos sem necessidade de os deslocar. Maria Catarina, passou assim a usar bata branca e a juntar-se às cinquenta meninas que iriam dois anos depois ser espalhadas pelas escolas públicas do regime. Bastava-lhes naquele tempo ter um sentido rigoroso da moral, acreditar na trilogia Deus, Pátria e Família, usar meias de vidro e saias dois dedos abaixo dos joelhos. Calças nunca. O diretor tinha até o chefe dos contínuos autorizado, a que ao subir as escadas que levavam às salas de aula, pudesse beliscar as pernas das futuras senhoras professoras, com o objetivo de ver se tinham ou não meias e de imediato, caso tocasse as pernas nuas e firmes, comunicar à Direção, que neste caso era ele, o Diretor, nomeado por Diário da República em cargo perpétuo.
As meninas com namorado, tinham-nos todos em fila, de casaco, gravata e lenço no bolso, esperando a saída da escola a trezentos metros daí, numa linha de meta imaginária, frente à tasca do Capote na rua que baixava para o Café Alentejano, a sala de espera. As namoradas chegavam, e eles ali, sem dar um passo, que encurtasse a distância fixada. Uma ou duas com mais idade, já com casamento autorizado para os poucos meses que faltavam para a queima das fitas e a missa da praxe, podiam ser levantadas na porta como encomendas desde que os destinatários nunca entrassem no edifício, e sempre depois de uma autorização escrita do pai da menina entregue ao diretor, em papel azul, de 35 linhas, selado e começado sempre da mesma maneira: eu…abaixo assinado – e acabado também formatado, assinatura e data depois do:  Pede deferimento.
Aqui começaram os problemas de Fernando Mata.
O governo de Salazar, pai exemplar, acima de cada pai, foi quem criou a lei sobre as autorizações de casamento das senhoras professoras. Se lhes pagara a formação, e lhe pagava um ordenado sentia-se na obrigação e o pior era que no direito também, de as proteger. Havia que evitar a todo o custo a figura parasitária do marido da professora, que corrompia a moral e sem trabalho vivia de um ordenado que não era seu. Então, naquela ânsia de tudo ter bem atado, num novelo cuja ponta estava sempre nos seus dedos, o governo da nação proibiu o casamento das senhoras professoras com quem não tivesse um emprego digno, como, para eles, empregado de banco, funcionário público ou empresário com provas dadas e salários superiores e onde o casamento entre professores, senhor professor e minha senhora, era o mais autorizado, como também o era o de minha senhora e funcionário das finanças.
(...)

In A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL
A editar em breve




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