lunes, 28 de abril de 2014

A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL / Mais um cheirinho...


(...)

Quando as freiras das Criaditas de Santa Zita a encaminharam para trabalhar na quinta de uma ilustre família, ela sabia que era a forma de sair daquele cheiro de velas e incenso, daquele bafio em que a tinham educado para servir homens e mulheres diferentes, não como ela que acreditava profundamente que o seu lugar, no mundo que Deus lhe dera para viver, era aquele, de fita e avental branco, de costuras e de cozinhas, de fazer as camas a quem nelas gozou, e de ser pecado, até mesmo imaginar ser condenável, perante Deus e os homens, aquela sede imensa de que lhe tocassem o corpo, rebelde e espigado em caldeirada hormonal, de quem quer viver, rir, gozar e ser feliz.
Chegou à herdade com as melhores referências das Criaditas de Santa Zita.
As heranças eram (e ainda são), as correias de transmissão das divisões das classes, e no Alentejo, as herdades as suas raízes. Filho de herdeiro, herdeiro nascia, outros, sem nada para herdar, restava-lhes a possibilidade de servir os herdeiros que lhe couberam na herança, não escrita por notário, mas pelo berço.
Assim, sempre assim, até hoje.
A senhora recebeu-a na sala enquanto tomava chá, nessa sala que ela limparia duas vezes por dia, e da qual estaria pendente numa linha recta, a sua, entre a sala e a cozinha.
- Mostra-me as mãos!
Esperança esticou-as.
- Vira-as!
Esperança obedeceu.
- As unhas sempre cortadas, as mãos limpas, entendido?
Esperança baixou os olhos quando a mulher de Romão Papafina lhe ajeitou a touca e lhe abotoou o decote:
- Assim. Botões fechados, que isto é uma casa de respeito – bateu as palmas como quem enxota as galinhas – vamos, vamos, para a cozinha, há muito para fazer e o senhor está a chegar.
O quarto de Esperança, ficava no primeiro andar, pequenino, cama de palha e lençóis de pano.
 Desconhecia que a mãe, aquela mulher de que se não lembrava, mas que todos lhe diziam ser bonita, como ela, que a abandonou um dia, logo após nascer, para a salvar, pois não resistiria à longa viagem, à longa fuga para a Argentina, às incertezas e obstáculos que se adivinhavam, nunca a tinha esquecido. Viveu a infância com os tios, que tudo lhe contaram do pouco que sabiam, mas que vítimas, da malvada tuberculose que andava solta pelo país, a tia, e do álcool, o tio, acabaram por se ver obrigados a entregar a menina ao asilo das raparigas que funcionava na Corredora de cima, frente ao jardim municipal.
Daí até Santa Zita, a escola de hotelaria da época, foi um passo, entre missas e terços.
Quando chegou à herdade de Romão Papafina, nunca poderia imaginar que a mãe, quinze anos antes, fizera parte daquela casa, sendo rainha do quarto grande e do coração do patrão.
Não o sabia ela, nem a senhora virtuosa que lhe mandara mostrar as mãos, nem Romão Papafina, que apenas viu nela, uma bela moçoila, pronta para ser devoradamente submissa.

(...)

In A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL
Aragonez Marques
... a publicar em breve ...

lunes, 21 de abril de 2014

ENSAIO SOBRE O TOMATE / CRÓNICA SEMANÁRIO FONTE NOVA ( 15 ABRIL )


A minha avó materna, chamava-se Esperança. Morreu atropelada a atravessar a estrada, em Casal do Marco, onde na placa da localidade estava escrito por mão  avisadora, com spray negro, avisando o perigo repetitivo daquela travessia, Casal da Morte.
Veio-me isto à cabeça porque o bombardeio da palavra esperança, dos jornais à televisão, nesta investida publicitária de uma entidade financeira acusada e condenada em Espanha pela segunda vez (aqui há mais o hábito da prescrição), me obriga a questionar, a ligação cada vez mais ousada e pública do estado com as entidades financeiras privadas.
Vi o Presidente inaugurar em Arronches uma clínica veterinária e receber uma lição de história pública, porque foi ao ar livre e privada porque teve o privilégio do Dr. Jorge Oliveira em classe particular, com olhar de aluno atento. Logo a seguir, foi Poiares Maduro a visitar o concelho com o pretexto da Esperança se chamar esperança.
É oportunismo e vassalagem.
Sim, eu sei que pelo menos, alguma coisa aí ficará, não sei é até quando, embora tenha a certeza que eles sim, sabem, pois conhecem o contrato da agência de publicidade que assinaram, e que este tem uma data de inicio e uma de termo.
Vi a MEO colocar Cabeço de Vide no mapa, achei interessante, mas não vi os governantes passearem-se coniventes por aí, como se de uma actividade pública se tratasse. Em Arronches não. Mistura-se o BES com o Governo como antigamente o Governo com a Igreja, e que se saiba, sem existir nenhuma concordata.
Tenho tanta pena desta desprotecção que sentimos, desta insegurança quanto ao amanhã, que brincar com a esperança, utilizá-la e violá-la me parece de mau gosto.
Agora o que me incomoda mais neste povo que aguentou 40 anos de ditadura, é sentir a mesma passividade, o mesmo deixar passar, o mesmo aplauso, o mesmo medo.
Tenho tantas saudades de Abril, onde um punhado de jovens se colocou ao lado dos desprotegidos que julgo que seria uma sorte, que uma qualquer empresa, aproveitasse a aldeia da Picha, descoberta há anos pelo Herman José, e apostasse nela, para ver se os portugueses recuperavam o que há muitos anos tem perdido. Os tomates. Isso sim, seria recuperar a esperança.

AM


sábado, 12 de abril de 2014

ARRONCHES / SERÃO DE LETRAS E MÚSICA / MAIS FOTOS SOLTAS

( FOTOS CEDIDAS POR FÁTIMA MARTELO, LORENA, DANIEL BALBINO, DIOGO RODRIGUES, EVA MARQUES... e esperamos por mais...)







(Fotos de Diogo Rodrigues)



(Fotos do Prof.Daniel Balbino)




...Rui Cardoso Martins, Exª Srª Presidente da Câmara de Arronches e Aragonez Marques...


... Carlos Luna e Rui Cardoso Martins...


... Aragonez Marques apresentando o espaço musical...




... Fátima Martelo, leitora assídua dos Ruis...


... Dio, o músico...


... momento de pausa...

( Fotos de Fátima Martelo)



(Fotos de Lorena)
























( FOTOS DE EVA MARQUES )

(CONTINUA)
UMA NOITE DIFERENTE



lunes, 7 de abril de 2014

SERÃO COM LETRAS, MÚSICA E PINCEL / ARRONCHES


NO CENTRO CULTURAL DE ARRONCHES
Sexta-feira dia 11 de Abril
21.30
Entrada Livre


Palestra pelo escritor RUI CARDOSO MARTINS com o tema:
O AMOR NA LITERATURA


Com o pretexto dos livros 
RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO
  ( de Aragonez Marques) 
SE EU  GOSTASSE MUITO DE MORRER 
(de Rui Cardoso Martins)
 histórias com 40 anos do Distrito de Portalegre




Exposição de obras do escultor e aguarelista 
César Caldeira




O Músico DIO
... com músicas das décadas de 70/80... 


(Será servido um Porto de Honra)

NO CENTRO CULTURAL DE ARRONCHES
Sexta-feira dia 11 de Abril
21.30
Entrada Livre

ENTRADA LIVRE