lunes, 21 de abril de 2014

ENSAIO SOBRE O TOMATE / CRÓNICA SEMANÁRIO FONTE NOVA ( 15 ABRIL )


A minha avó materna, chamava-se Esperança. Morreu atropelada a atravessar a estrada, em Casal do Marco, onde na placa da localidade estava escrito por mão  avisadora, com spray negro, avisando o perigo repetitivo daquela travessia, Casal da Morte.
Veio-me isto à cabeça porque o bombardeio da palavra esperança, dos jornais à televisão, nesta investida publicitária de uma entidade financeira acusada e condenada em Espanha pela segunda vez (aqui há mais o hábito da prescrição), me obriga a questionar, a ligação cada vez mais ousada e pública do estado com as entidades financeiras privadas.
Vi o Presidente inaugurar em Arronches uma clínica veterinária e receber uma lição de história pública, porque foi ao ar livre e privada porque teve o privilégio do Dr. Jorge Oliveira em classe particular, com olhar de aluno atento. Logo a seguir, foi Poiares Maduro a visitar o concelho com o pretexto da Esperança se chamar esperança.
É oportunismo e vassalagem.
Sim, eu sei que pelo menos, alguma coisa aí ficará, não sei é até quando, embora tenha a certeza que eles sim, sabem, pois conhecem o contrato da agência de publicidade que assinaram, e que este tem uma data de inicio e uma de termo.
Vi a MEO colocar Cabeço de Vide no mapa, achei interessante, mas não vi os governantes passearem-se coniventes por aí, como se de uma actividade pública se tratasse. Em Arronches não. Mistura-se o BES com o Governo como antigamente o Governo com a Igreja, e que se saiba, sem existir nenhuma concordata.
Tenho tanta pena desta desprotecção que sentimos, desta insegurança quanto ao amanhã, que brincar com a esperança, utilizá-la e violá-la me parece de mau gosto.
Agora o que me incomoda mais neste povo que aguentou 40 anos de ditadura, é sentir a mesma passividade, o mesmo deixar passar, o mesmo aplauso, o mesmo medo.
Tenho tantas saudades de Abril, onde um punhado de jovens se colocou ao lado dos desprotegidos que julgo que seria uma sorte, que uma qualquer empresa, aproveitasse a aldeia da Picha, descoberta há anos pelo Herman José, e apostasse nela, para ver se os portugueses recuperavam o que há muitos anos tem perdido. Os tomates. Isso sim, seria recuperar a esperança.

AM


No hay comentarios:

Publicar un comentario