martes, 1 de abril de 2014

A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL ( ...parágrafos extraídos do cap.49... )



(...)
As mulheres de Santa Glorieta, tomaram a dianteira. Com poucos dados sobre ela, mas muitos sobre a Rita Gil, que lhes dissera claramente que essa história da Santa era balela, que eram todas umas ignorantes, Glorieta era tão santa como ela, e mais gorda, ainda por cima, estão a enganar o povo, a Junta de Freguesia metida nisso, e como se fosse pouco, de uma forma de quem tem galões sobre a informação certa de outros mundos, tinha-se atrevido a dizer-lhes, na cara:
- Tenham vergonha, deixem à mulher descansar em paz! Já basta não ter sido enterrada com descanso.
Faltava mais, a malcriada da viúva armada em francesa, que nem o marido respeitava com aqueles vestidos coloridos e decotados, como se fosse uma gaiata, o raio da velha. Que o deixasse ela descansar em paz, pois era público que o tinha em casa, desfeito em pozinhos, na estante dos livros. Que sacrilégio! E todos sabiam que muitas vezes o metia no carro e o levava de passeio e que no último dia de finados, houve quem a visse num restaurante em Elvas, comendo, com o pote de barro azul escuro, a bruxa! enquanto todas as mulheres decentes, viúvas como ela, limpavam as campas, choravam e punham flores, a francesa, vá de comer, arroz de marisco, dizia quem tinha visto, e falava com o pote azul, louca, completamente louca! Quem era ela para as insultar? Pior. Quem era ela para insultar a única santa que conheceu em vida? Para questionar os milagres de Santa Glorieta? Milagres reconhecidos até do outro lado da fronteira? Da fronteira Clarinha? do mundo! Muitos eram os que falavam inglês que lhe tiravam fotografias, e até chineses, se retractavam com ela e deixavam dinheiro para os pobrezinhos.
Tinham a todo custo que evitar, que as ideias dessa doida à solta, não se transformassem em sarampo, e alastrassem como doença. A mulher do sargento espanhol, deveria de ser convidada para a causa, antes de a bruxa a cobrir de bolhinhas vermelhas, até porque diziam, que também tinha queimado o marido e estivera em Portalegre, na Ribeira de Nisa, a enterrar parte dele numa caixinha, o que já fizera noutros lados, o pobre, que se comentava que tinha parte do pó ardido, num medalhão que trazia sempre ao peito.
- Razão tem o teu homem Mariana, juntou-se a fome à vontade de comer, mas nós vamos mudar as ementas. A fome pode ser vencida de muitas maneiras.
- É verdade querida, nem só de pão vive o homem…
- Nem de pau a mulher!
António Carlos Fagundes Fonseca, tinha chegado ao pátio, braços fortes e mãos gigantes fazendo girar as rodas da cadeira.
Assim se decidiu, organizar uma comissão de senhoras devotas, que fosse falar com Dona Patrocínio, convidando-a a chá e bolinhos em casa de Mariana.
(...)


 In A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL
( a editar em breve )

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