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As mulheres de Santa Glorieta,
tomaram a dianteira. Com poucos dados sobre ela, mas muitos sobre a Rita Gil,
que lhes dissera claramente que essa história da Santa era balela, que eram
todas umas ignorantes, Glorieta era tão santa como ela, e mais gorda, ainda por
cima, estão a enganar o povo, a Junta de Freguesia metida nisso, e como se
fosse pouco, de uma forma de quem tem galões sobre a informação certa de outros
mundos, tinha-se atrevido a dizer-lhes, na cara:
- Tenham vergonha, deixem à
mulher descansar em paz! Já basta não ter sido enterrada com descanso.
Faltava mais, a malcriada da
viúva armada em francesa, que nem o marido respeitava com aqueles vestidos
coloridos e decotados, como se fosse uma gaiata, o raio da velha. Que o
deixasse ela descansar em paz, pois era público que o tinha em casa, desfeito
em pozinhos, na estante dos livros. Que sacrilégio! E todos sabiam que muitas
vezes o metia no carro e o levava de passeio e que no último dia de finados,
houve quem a visse num restaurante em Elvas, comendo, com o pote de barro azul
escuro, a bruxa! enquanto todas as mulheres decentes, viúvas como ela, limpavam
as campas, choravam e punham flores, a francesa, vá de comer, arroz de marisco,
dizia quem tinha visto, e falava com o pote azul, louca, completamente louca!
Quem era ela para as insultar? Pior. Quem era ela para insultar a única santa
que conheceu em vida? Para questionar os milagres de Santa Glorieta? Milagres
reconhecidos até do outro lado da fronteira? Da fronteira Clarinha? do mundo!
Muitos eram os que falavam inglês que lhe tiravam fotografias, e até chineses,
se retractavam com ela e deixavam dinheiro para os pobrezinhos.
Tinham a todo custo que evitar,
que as ideias dessa doida à solta, não se transformassem em sarampo, e
alastrassem como doença. A mulher do sargento espanhol, deveria de ser convidada
para a causa, antes de a bruxa a cobrir de bolhinhas vermelhas, até porque
diziam, que também tinha queimado o marido e estivera em Portalegre, na Ribeira
de Nisa, a enterrar parte dele numa caixinha, o que já fizera noutros lados, o
pobre, que se comentava que tinha parte do pó ardido, num medalhão que trazia
sempre ao peito.
- Razão tem o teu homem
Mariana, juntou-se a fome à vontade de comer, mas nós vamos mudar as ementas. A
fome pode ser vencida de muitas maneiras.
- É verdade querida, nem só de
pão vive o homem…
- Nem de pau a mulher!
António Carlos Fagundes
Fonseca, tinha chegado ao pátio, braços fortes e mãos gigantes fazendo girar as
rodas da cadeira.
Assim se decidiu, organizar uma
comissão de senhoras devotas, que fosse falar com Dona Patrocínio, convidando-a
a chá e bolinhos em casa de Mariana.
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