jueves, 29 de octubre de 2015

A MENSAGEM




Lorena a Alicia são irmãs.

Lorena tem nove anos e gosta de escrever a Alicia tem cinco anos e gosta de pintar.

Naquele dia, estavam as duas no chão da sua casa em Portugal e enquanto Alicia pintava, Lorena olhava para o desenho de uma forma triste.

O pai das meninas era professor em Timor-Leste, a muitos quilómetros da sua casa.

Alicia pintava um desenho que tinha feito, onde estava o pai com muitos meninos timorenses a brincar com fantoches que tinham construído e cujas fotografias a mãe lhes tinha mostrado.

Lorena continuava a olhar o desenho da irmã e às tantas perguntou:

_ Posso escrever nele?

Agarrou a caneta que o pai deixara no escritório lá de casa e legendou completando o desenho de Alicia.

A mãe quando o viu, mandou-o logo ao pai que todas as noites, porque aí era de dia, falava pelo computador e mandava e recebia fotografias aliviando as saudades.

Quando o pai chegou a casa depois de um dia de muito calor e trabalho, viu o desenho de Alicia e a legenda de Lorena, e sentiu uma grande pena, de lhes não poder dar beijinhos.

O desenho tinha muitos meninos à volta de muitos fantoches coloridos e nele estava escrito:

“ Porque brincas com tantos meninos lá tão longe e não estás aqui a brincar connosco? ”

Nesse mesmo dia, o pai decidiu trazer toda a família para Timor, e numa mensagem curta deixou uma promessa:

“ Nunca mais nos vamos separar.”


                                                                               A.M.

martes, 6 de octubre de 2015

PEÇA DE TEATRO DE FANTOCHES PRODUZIDA EM TIMOR-LESTE PARA TODAS AS CRIANÇAS QUE QUISEREM BRINCAR COM ELA


NASCEMOS IGUAIS

Personagens: RUCA / BE / CAJÓ / MÃE RORRO / TIA TETE

RUCA- Olá, ando à procura da minha irmã gémea (finge que procura, nos cantos, atrás da cortina) BÉ!!! Alguém viu a Bé? (fala com o público) BÉ!!!!

(entra a Bé)

- Estou aqui, que barulheira é esta? Estou aqui.

RUCA- Onde estavas?

- Estava a lavar os pratos.

RUCA- Claro, muito bem, assim é que é, cumprindo o teu dever. Nasceste mulher tens que trabalhar, eu vou jogar à bola.

(Sai de cena a assobiar)

- E pronto, aí vai ele. Não concordo nada. É mesmo uma injustiça. Nascemos iguais. Eu levanto-me cedo para ir com a mãe buscar água, limpar a casa, olhar pelo meu irmão pequenino… e às vezes ainda lavo a roupa. O Ruca, só porque nasceu rapaz, levanta-se da cama e vai brincar com os amigos. Injusto, muito injusto. (fala com o público) É injusto, não é? Mais alto, não oiço nada. É injusto não é? Vou chamar o Ruca e dizer-lhe (chama o irmão) Ruca!!!Ruca!!! Onde é que ele anda? (procura)já ninguém sabe dele. Ruca!!!Ruca!!!

(aparece o Ruca)

RUCA- Estou aqui, já nem se pode brincar descansado. O que é que tu queres?

- O que eu quero é que logo ao jantar sejas tu a ajudar a mãe a lavar a loiça, enquanto eu vou regar as flores.

RUCA- És parva? Isso é trabalho de mulher, eu sou um rapaz!

- O quê? Os rapazes também podem lavar a loiça. Não são só as raparigas. Era o que faltava!

RUCA- O que é que estás para aí a dizer? Não nasceste rapariga? Não te queixes. Pois eu vou jogar à bola!

(Ruca sai a assobiar e Bé fica no palco)

- Como é que eu vou mudar estas cabeças velhas? (suspira)

(Fecha o pano)

II

MÃE RORRO- Olá, eu sou a Mãe da Bé e do Ruca. São gémeos, nasceram iguais, mas a Bé é uma refilona. Nunca sei onde ela está. BÉ! Bé!!

- Estou aqui minha mãe.

MÃE RORRO- Onde é que estavas? Há muita roupa para lavar, não penses que vais vadiar. Tu não és nenhum rapaz!

- Ser rapaz é que é bom. O Ruca não faz nada. É um preguiçoso.

MÃE RORRO- Caluda! O Ruca é um rapaz. Tem como dever ajudar o pai, limpar ervas, levar os animais a pastar, apanhar lenha…

- Mas eu também faço isso. Porque é que ele não pode fazer os meus trabalhos se eu faço os dele? Os trabalhos podem ser feitos por rapazes e raparigas. Trabalho é trabalho. Só isso.

MÃE RORRO- Não minha filha. A mulher cozinha, cose, está em casa e as filhas ajundam-na. Só assim é que um dia, poderás encontrar um bom rapaz que queira casar contigo.

- Bom rapaz? Que queira casar comigo? Pois eu não caso com preguiçosos! Quero estudar e ser uma boa aluna. Era o que faltava, levar uma vida a servir um homem…

(Bé, sai de cena, refilando)


MÃE RORRO - Esta minha filha tem razão. Estudando, a vida dela não será como a minha.

(Entra a Tia Tété)

TIA TETE- Ó mana, a menina tem razão e tu sabes. Porque não lhe dizes?

MÃE RORRO - Querida irmã, tenho medo, a tradição tem muita força e não quero que lhe aconteça nada de mal.

TIA TETE- De mal? Pior do que a vida que levamos? Os tempos são outros, os nossos filhos vão à escola e a escola é muito mais do que aprender a ler e a escrever. Sabes o que te digo? Deixa a garota em paz que ela já sabe mais do que nós as duas juntas. Vamos, vamos andar um pouco a pé e pelo caminho, falamos mais um bocadinho.

(Saem as duas e fecha o pano)

III

RUCA- Estou farto de tanto brincar, até estou aborrecido.

(Entra o amigo Cajó)

RUCA- Olha o Cajó, o menino moderno, onde vais?

CAJÓ- Fujo das minhas pretendentes.

RUCA- O quê? Eu não tenho nenhuma e tu foges das que tens? São muitas?

CAJÓ- Gostar só gosto de uma, mas as outras querem rapazes como eu para maridos. São meninas que estudaram. E gostam de como a minha mãe me educou. Eu sei fazer tudo.

RUCA- Tudo?! Tudo mesmo? Sabes lavar pratos e essas coisas de mulher?

CAJÓ- De mulher? Tu estás parvo pá. Qual de mulher? Trabalho é trabalho e na    família todos temos que nos ajudar e saber fazer um pouco de tudo.

RUCA- Tu ajudas a tua mãe? Só deves ajudar o teu pai. Tu és um rapaz!

CAJÓ- Ajudo quem necessita. Sei fazer tudo.

RUCA- Pratos também?

CAJÓ- E roupa e cuidar dos meus irmãos pequeninos e também cortar erva e dar de comer ao gado. Hoje já não há trabalhos de rapaz e rapariga. Todos somos iguais, e olha que elas, agora com a escola…

RUCA- Com a escola?

CAJÓ- Sim, com a escola aprendem novas coisas e lá não as ensinam a ser menos do que nós. Somos iguais. Tão iguais como tu e a tua irmã Bé.

RUCA- Pois…

CAJÓ- Como fui educado por uns pais modernos, sou também um jovem moderno por isso…

RUCA- Já sei Por isso tens muitas raparigas a querer casar contigo. A minha mãe outro dia disse-me: Filho, se todas as raparigas pensarem como a tua irmã, penso que daqui a uns anos, ninguém quer casar contigo.

CAJÓ- E tu que pensas?

(Ruca mostra uma panela)

RUCA- Casar comigo? Não querem? Ai querem querem, vou mesmo agora lavar esta panela.


(Fecha o pano)


  A.M (2015)

Sugerido por excerto da
Revista Ba Lafaek, , edisau 13,
Tinan IV- 2004