(…)
Como as mangas, as papaias, os cocos e as jacas, Lino Alves
era fruto da ilha.
Falava português, como quem fala uma língua perdida, aos
solavancos, verbos sem conjugação, vocábulos soltos, sem plural ou singular mas
com o sentido da representação e o significado da imagem: _ Eu exército de
Portugal. – Fazia-o com orgulho, pequenino, embrulhado numa lipa, pés escuros
como o corpo, visíveis numas sandálias finas, sola invisível e leve, entaladas
em dois dedos magros e limpos.
Apontou a fotografia na parede, camuflado, outra
idade, retida numa moldura que lhe avantajava o tronco, boina ao lado, bigode
negro e com desenho em arco abaixo da boca – Eu exército português - Sorriu,
num convite – Bebe cerveja comigo professor.
António Salvador acenou com a cabeça, segurou a lata Bintang,
limpou-a bem, fez estalar a argola e Lino Alves meteu o dedo na sua. - Granada,
professor - e arrancou o selo como quem despoleta uma arma, levou-a aos lábios,
bebeu metade de um sôfrego, limpou os bigodes que mantinham a linha mas modificaram a cor e rematou – esta não mata - soltando depois uma gargalhada de
quem estava feliz.
(…)
in O Que Foste Lá Fazer?
... em construção...
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