martes, 30 de octubre de 2012

PROFESSOR MARTINÓ ESCREVE SOBRE RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO

(Roubado com a devida vénia do Blogue abaixo)


Retratos de Gente em Procissão

RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO

(E FORA DELA)

                                                         30

Tinha estado na noite anterior, no bar do Chapeli, junto da fonte das três bicas. Aí matei saudades da malta que ia entrando e que não via há anos, a começar pelo Chapeli, excelente guarda redes que chegou à cidade apenas com um defeito, o vir defender a baliza do Desportivo (estou a brincar), embora e de verdade verdadinha, a mim, toda a belíssima actividade extra-escolar promovida pelo Professor Martinó, chefe local da banda desenhada, com os alunos da preparatória, como se chamava nesse tempo, rompendo os muros da escola e invadindo as ruas, praças e avenidas, com cartazes a favor da ética e verdade desportiva, do convívio e da paz no desporto, antecedendo e prevenindo a guerra entre os grandes clubes rivais, em especial o desafio do próximo domingo, onde o Estrela subiria à primeira divisão se ganhasse, e o adversário, o Desportivo, tudo faria para que tal não acontecesse, como não aconteceu, o Desportivo ganhou e o Estrela ficou, não me convenceu, e se contribuiu para o civilizar das minhas atitudes futebolísticas, ou perante o futebol de bairro, nunca mexeu, nem um milímetro, a minha paixão clubística herdada da família e fortemente mantida pelo meu primo João Lagem, barbeiro do Arco de Santo António, que me levava pela mão ao futebol, todos os domingos, lenço atado com quatro nós na cabeça como chapéu, e rádio pequeno ao ombro, ouvindo os relatos dos jogos da capital, que isso do futebol, em todo o País, era no mesmo dia e à mesma hora.(…)
Este denso, vivo e fascinante parágrafo inicial do capítulo 30 (já pelos finais do livro) quase me fez desistir de escrever e divulgar o presente texto. Não estou habituado a ser assim tratado, com uma avaliação tão generosamente crítica, pelo que um certo íntimo pudor quase travou o meu impulso. Mas o Rui Aragonez Marques citou duas facetas importantes da minha vida, a permanente paixão pessoal pela BD e a intervenção profissional que sempre procurei colocar ao serviço dos alunos e da comunidade. Aquela Operação Futebol, desencadeada a 8 de Maio de 1977 -tinha ele 20 anos e também foi tocado- significou um dos momentos pedagógicos mais conseguidos no seio daquela fabulosa equipa que era então constituída pelos colegas e alunos da Escola Preparatória Cristóvão Falcão. E esta solidariedade não podia passar em claro. Mas não produziu, de todo, uma troca de piropos.Lembro-me do Rui. Os anos de quase uma geração que nos separam não anularam a proximidade geográfica que nos ligou, pois a Rua do Pirão e a da Mouraria desaguam no mesmo centro nevrálgico, o Largo dos Combatentes. Só que ele era um gaiato ou um rapaz, quando eu era já homem.Mas a cidade mais a gente em procissão ou fora dela são as mesmas. A única diferença é que eu teimei em permanecer e ele preferiu o exílio. Creio que foi dele a mais correcta e lúcida decisão. Depois, e isso reflecte-se claramente no seu livro, ganhou a bênção dos desertores, que magistralmente o (também exilado) João Miguel Tavares explanou no prefácio que escreveu para as minhas Crónicas Lagóias. Ou seja, o Rui puxou a pele a memórias engelhadas, retocou velhas tristezas, deu vida a experiências medíocres, amou à distância uma cidade quando o difícil é amá-la nela permanecendo. Resumindo o João Miguel Tavares, direi que o Rui deixou de aturar os defeitos de Portalegre, mas mesmo assim foi capaz de se manter simultaneamente nostálgico e lúcido. Por isso aquelas pessoas de carne e osso estão vivas, na procissão ou fora dela, assim como as suas ruas permanecem habitadas e frenéticas após a passagem do ritual cortejo, mesmo quando pelo autor, deliberadamente ou por mero engano, lhes são trocados os nomes. Mas não as identidades.Enquanto o historiador rebusca as cinzas já frias, habita as mesas anatómicas dos necrotérios e se preocupa com dados estatísticos, perseguindo o mais absoluto rigor, o cronista, quando se atreve ao bisturi, rasga carne quente e faz sangue, mas logo compensa a ferida com uma carícia ou um beijo, mexe em gente que protesta ou agradece, coloca ficção onde falha a memória, muito mais interessado nos registos ainda palpitantes que nos relatórios científicos. Foi isto que o Rui Aragonez Marques agora exemplarmente cumpriu.No prefácio dos Retratos, lembra e bem Rui Cardoso Martins Memórias, as do Oco, de Castelo Júnior, por acaso (?) também um professor que viveu exilado de Portalegre e por longos anos. Compondo um terceto de frescos citadinos, bem lagóias, junto-lhes E se eu gostasse muito de morrer, ainda que esta obra aborde mais a morte do que a vida. Mas é também uma legítima crónica desta Portalegre bem pouco bafejada pela sorte de registos personalizados das suas realidades comunitárias.Li o livro de Rui Aragonez Marques dum fôlego. É certo que alguns dos seus capítulos se me afiguraram algo monótonos, sobretudo quando ele tratava gente e factos de todo arredados da minha própria experiência. Mas logo adiante retomava o apaixonante fio narrativo das vivências comuns, ainda que praticadas em diferido. O conjunto é magnífico, servido por um estilo pessoalíssimo que constitui um dos seus mais originais atractivos.Depois, há aqui uma enriquecedora coincidência (?) nas obras destes dois Ruis portalegrenses, protagonizada pela cumplicidade doutro incontornávellagóia, Fernando Mão de Ferro e a sua (nossa!) Colibri.Recordo alguns conceitos que Lobo Antunes usou quando um dia apresentou o primeiro livro de Rui Cardoso Martins, saudando o exemplo de paciência, orgulho e solidão que aquela obra significava. Junto-lhe os outros conceitos que Rui Aragonez Marques agora explicita na contracapa do seu livro, o esforço de memória, a surpresa, a saudade e o humor. Creio que, juntando todos estes ingredientes nas proporções certas e mexendo-os sem os agitar (como recomenda James Bond), se obtém uma deliciosa receita, um atraente produto. A prova está aqui, à nossa disposição. Experimentem-no que vale a pena…Mas não se deve abusar da dose (é forte!) e serve-se fria.
Com um abraço grato, amigo e de parabéns ao Rui Aragonez Marques, do
António Martinó 
Caro Professor, que posso dizer de uma critica tão audaz, certeira, mas também prazenteira?
O Sr. Professor Martinó, entrou e saiu  da minha vida várias vezes, na escola, no FAOJ, nas acções de formação da DSPRI... no fundo, valeu a pena ter partilhado consigo estes bochechos da minha vida... é por isso que sinto esta sua crónica, como um abraço.
Obrigado Professor.
ARAGONEZ MARQUES

ENTREVISTA NA RÁDIO EM VIAGEM DE COMBOIO


ARAGONEZ MARQUES NO CANAL EXTREMADURA RÁDIO

(COPIADO COM A DEVIDA VÉNIA DO BLOGUE DE TRAZTRAZ)

Canal Extremadura Radio.

 Lusitania Express.

(Apresentado por José Maria da Silva, o Extremeño mais português de rádio Extremadura)

Lusitania Express

Lusitania Express quiere ser un punto de encuentro entre Extremadura y Portugal, un viaje sonoro que facilite nuestro conocimiento mutuo, elimine tópicos, fomente el intercambio y nos permita hablar de las personas e iniciativas que se ponen en marcha para alcanzar estos objetivos.
Programa realizado en colaboración con el Instituto Camôes

"Lusitania Express" 

é um programa, apresentado por José Silva, num comboio onde se encontram vários passageiros cruzando terras de 
Portugal e Espanha.
Dentro vão convidados do Canal Extremadura Rádio, 
com quem o José fala
 colocando no ar o encontro de vozes de ambos os lados da raia.

No próximo Domingo, pelas 11 horas, 
Aragonez Marques


 é um dos convidados a viajar no "Lusitania Express" 
apresentando neste comboio mágico,
 o seu novo livro
 RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO


Este é um livro de fácil leitura
 que pode ser lido
 por alunos de
 Língua Portuguesa
 fora de Portugal.
Este novo livro de 
Aragonez Marques, 
tem a chancela de 
Edições Colibri 
e apresenta um prefácio de 
Rui Cardoso Martins.
Ao autor,
 TrazTraz Serviços Raianos
 deseja uma boa viajem no
 Lusitania Express.
Aos leitores e ouvintes, 
TrazTraz Serviços Raianos
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 BOAS LEITURAS!
 ENCOMENDE NA SUA LIVRARIA. 
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06190 La Roca de La Sierra (Badajoz)

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1601-801 Lisboa

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00351 217964038




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sábado, 27 de octubre de 2012

JORNAL FONTE NOVA DIVULGA RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO


(COPIADO DO BLOGUE DOS LIVROS E DAS ARTES TRAZ-TRAZ SERVIÇOS RAIANOS)-

                                    



COMO POSSO TER O LIVRO?

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COMEÇOU A SER DISTRIBUÍDO EM ESPANHA O NOVO LIVRO RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO


(COPIADO DO BLOGUE DOS LIVROS E DAS ARTES TRAZ-TRAZ SERVIÇOS RAIANOS)-


 ARAGONEZ MARQUES


15 €

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jueves, 25 de octubre de 2012

AS FERRAS / PUBLICADO NA REVISTA NOUDAR QUANDO A FESTA BRAVA FOI TEMA


As Ferras

Catorze? Quinze? Dezasseis anos? Foi por essa altura que decorriam “as ferras” de que vos falo.
Pediu-me a Noudar que escrevesse algo. Touros, o tema, ou Toiros, talvez nao saibam que se pode dizer de ambas as maneiras. Touros, mais campestre, mais rural, mais Alentejo, mais sol de praça, Toiros, mais cidade, mais finura, mais português de academia se academia houvesse, mais lugares à sombra.
Lembro-me, de cima deste meio século que tenho, de um barracao, onde se guardavam as alfaias agricolas, que nesse dia, o dia da “ferra”, se transformava em grande salao de comidas e bebidas. Uma grande mesa ao meio, muitos cavaletes a sustê-la. Toalhas grandes, de pano, algumas bordadas, sobrepostas nas pontas, esticadas, muitas, cobriam o tampo da enorme mesa e as patas dos cavaletes. Sobre elas, uma imensidade de pratos e iguarias. Nada de garfo e faca nesse dia, à mao, navalhas abertas e cortantes.Um exagero de comida que definia, às vezes por presunção, o lavrador que nao lavrava, o dono da terra, do barracao, das alfaias, dos cavaletes, das toalhas, dos pratos, das iguarias e dos toiros.Toiros. Que quem os cuidava chamava Touros.
Eram gentes de sol.
Por essa altura, teria o meu pai, que nos deixou há três meses para sempre e cujo luto ainda nao tive tempo de fazer, pouco menos do que a idade que tenho hoje, e era pela sua mao, pois trabalhava nas veterinárias, que eu tinha contacto com esse dia, o dia da “ferra”.


Logo cedo, as vacas e os aprendizes de touro, eram metidas num redondel e contratavam-se “os forcados”, um grupo dos próximos, o de Portalegre, o de Sousel... que os de Alcochete, Vila Franca de Xira, Coruche ou Santarém, estavam destinados às “ferras” Ribatejanas, para agarrarem o gado, um a um, que depois de bem sustido e caído no chao, era alvo dos ferros em brasa que dormitavam com as pontas alaranjadas de calor, no  escaldante braseiro ateado pela manha e que durava enquanto houvesse vaca ou cria que nao fosse ferrado. Aproveitavam os donos essa imobilidade do bicho, e se agarrados uma vez, tudo se faria aproveitando o momento, nao só a “ferra” como a vacinaçao e a recolha de amostras de sangue para análise da brucelose, que nessa altura, amedrontava os bolsos dos ganadeiros, e era aqui, que aparecia o meu pai e entrava eu, catorze, quinze, dezasseis anos? Nao sei bem, mas que importa o tempo se tudo continua igual, ou parecido, só que eu, deixei de ser convidado, e agora, com o meu pai em viagem infinita e sem retorno, darei por encerradas presenças fisicas, e manterei apenas as memórias que partilharei com filhos, netos, amigos e com você.
Depois da “ferra” ( a vacinaçao e a prevençao de doenças) nao é mencionada na especialidade deste dia, apenas o ferro, a posse, o cheiro a carne queimada, o mugir agudo das reses...vinha a festa.
Mas nao é critica esta partilha consigo desta vivência juvenil, e nao o é, porque gostava, direi mais, adorava, e sabendo que ia acompanhar o meu pai, bem antes dele acordar, já eu estava desperto, excitaçao no corpo, e a enorme expectativa do dia diferente que iria nascer para mim.
Levávamos o velho Lange Rover dos Serviços Pecuários de Portalegre, a velha Intendência Pecuária de que o meu pai era funcionário, e o cheiro do campo misturado com o “pecuzanol” e o “tibenzol” dentro do gipe, os saltos do carro pela estrada de terra, os fatos de macaco brancos e aqueles amanheceres, ainda ocupam um espaço previligiado nos meus sentidos.
Depois do trabalho, seguia-se o almoço, manchando as toalhas com  nódoas de azeitona, molhos de cabrito, sopa de cachola,  pimenta que apaladava os queijos frescos (comidos antes das análises), e um sem fim de sobremesas desde o arroz doce até às “mousses” de todas as qualidades, cores e paladares.
Comia-se de pé. Todos sabíamos porquê, ou quase todos, pois os noviços de nada se precaviam. O meu pai, enquanto metia um panado na boca segurando com a outra mao o prato, dizia-me sempre “ nao tires os olhos dos portoes”.
Eram portoes grandes, capazes de engolir as ceifeiras debulhadoras, um em cada ponta do barracao, e entao, quando menos se esperava, entrava por um deles uma vaca brava, tao assustada como nós, correndo a caminho do outro portao, por onde entrava a luz e sabia que estava a liberdade. Quanto aos comensais, largavam pratos e copos, saltavam por cima das toalhas bordadas, entornavam jarros de pura cêpa, e as senhoras também, e as crianças que os pais arrebatavam num impulso salvador. Depois, quando a vaca saia, eram os risos, os comentários, o sangue que se aquecia com os copos que se enchiam, a festa da “ferra”.
Descansava-se depois por ali, debaixo dos sobreiros, as crianças andando de burro, as maes vigiando, os pais curtindo a pançada ressonando pelas sombras, debaixo das azinheiras ou protegidos pelas paredes exteriores do sítio da festa.
E às cinco horas, sempre às cinco, havia um encontro marcado no redondel.
Era o culminar.

As senhoras e as crianças recolhidas sobre as zorras dos tractores, ou das carroças de madeira fechadas em círculo. Os homens, os rapazes, como um ritual, adrenalina à tona, esperando a saída do novilho, as correrias à sua frente, os volteios, as fintas, os medos, os risos da assistência. Começava entao a aparecer no público, canas ao alto, rachadas nas pontas, com notas de escudo entaladas. Os moços, do grupo convidado, que utilizavam “as ferras” para treinos das corridas de verdade, com touros de verdade, sem nada receberem em troca do que o enaltecer da sua vaidade, faziam-se caros. Deixavam que mais canas com notas subissem ao alto, e quando contavam uma maquia interessante, saltavam para o redondel demonstrando bravura. Alinhavam-se em fila indiana,  o primeiro chamava o novilho, pé ante pé, pavoneava-se frente a frente com o animal. Batia-lhe as palmas, mais um passo curto, um salto chamativo, maos nas ancas, “ei, touro lindo”, “ei, touro, touro, touro lindo”, e o novilho arrancava, nobre, olhos fechados, como fechados ficavam os braços do forcado galopando na sua cabeça.. Depois saltavam-lhe em cima os restantes moços, desmanchando a fila, e um, o último a largar o touro, o rabojador, agarrado à cauda do touro e flectindo um joelho, contrário à perna esticada,  riscava um círculo no chao, como um compasso marcando a terra.
Recolhiam depois as notas das canas que se lhes apontavam, era a paga do seu esforço.
A sua bravura, a coragem que aparentavam, estava arroupada pela técnica, por muitas “pegas” repetidas, por muitas instruçoes passadas pelos mais velhos e concentradas no “cabo” do grupo.
Podem na praça, reencontrar-se com o animal da “ferra”, quatro, cinco anos depois, e aí sim, todo o trabalho aparece na montra da praça.
Também esses dias fazem parte da minha memória.


Tinha a sorte da corrida das festas da minha terra, durar para mim todo o dia. Enquanto começava para a maior parte do público às seis da tarde, todos os anos, religiosamente no dia 23 de Maio, Dia da Cidade de Portalegre, comemorando o foral que lhe foi outorgado pelo rei D.Joao III, para mim, começava às oito horas da manha, visitando os curros com o meu pai, verificando se os touros estavam em condiçoes, assistindo ao sorteio dos animais pelos representantes dos cavaleiros, à embolaçao dos touros, vendo as apostas feitas neste ou naquele animal.
Toda a manha   se falava da corrida da tarde, e curiosamente esse nao era para mim o melhor momento. Começava o crepúsculo  da festa,  e por cada hora que passava o final aproximava-se doentio. Depois da corrida, onde por decisao da lei portuguesa nao se matam os touros na praça, assistia com mágoa ao desenrolar dos bastidores. Já nao ia ao jantar dos toureiros, onde se cantava o fado. O meu pai levava-me para casa, mas um dia  vi.
Vi como sofriam os touros depois da corrida portuguesa.
 Sao colocados dois barrotes atravessados num curto corredor, um por cima e o outro por baixo do pescoço do touro, tornando-o num animal sem qualquer defesa. Sao-lhe depois arrancadas as farpas, com uma navalha que lhes retalha a carne e deixa a nú buracos disformes de carne viva. Depois, para que nao infecte (disseram-me), regam-se os buracos com creolina enquanto o touro berra e movimenta as partes traseiras sem sucesso de liberdade. Várias horas depois, o animal tem febres altas, e ou morre no matadouro doente e febril ou dizem, sao levados de novo para os prados onde se curarao ou nao. Nao sei. Fui testemunha do matadouro, nunca acompanhei a devoluçao do animal aos campos. Dizem que sim, que se curam, dizem até que sao novamente vendidos para serem corridos em praças pequenas em negócios fraudulentos e perigosos para os toureiros.
Talvez por isso, recorde “as ferras”, a alegria que sentia tao cerca do touro, ou toiro.
Sol e Sombra.


                                          Aragonez Marques- in Revista Noudar