A minha avó materna, chamava-se Esperança.
Morreu atropelada a atravessar a estrada, em Casal do Marco, onde na placa da
localidade estava escrito por mão avisadora, com spray negro, avisando o perigo repetitivo daquela travessia, Casal
da Morte.
Veio-me isto à cabeça porque o bombardeio
da palavra esperança, dos jornais à televisão, nesta investida publicitária de
uma entidade financeira acusada e condenada em Espanha pela segunda vez (aqui
há mais o hábito da prescrição), me obriga a questionar, a ligação cada vez
mais ousada e pública do estado com as entidades financeiras privadas.
Vi o Presidente inaugurar em Arronches uma
clínica veterinária e receber uma lição de história pública, porque foi ao ar
livre e privada porque teve o privilégio do Dr. Jorge Oliveira em classe
particular, com olhar de aluno atento. Logo a seguir, foi Poiares Maduro a
visitar o concelho com o pretexto da Esperança se chamar esperança.
É oportunismo e vassalagem.
Sim, eu sei que pelo menos, alguma coisa
aí ficará, não sei é até quando, embora tenha a certeza que eles sim, sabem,
pois conhecem o contrato da agência de publicidade que assinaram, e que este
tem uma data de inicio e uma de termo.
Vi a MEO colocar Cabeço de Vide no mapa,
achei interessante, mas não vi os governantes passearem-se coniventes por aí,
como se de uma actividade pública se tratasse. Em Arronches não. Mistura-se o
BES com o Governo como antigamente o Governo com a Igreja, e que se saiba, sem
existir nenhuma concordata.
Tenho tanta pena desta desprotecção que
sentimos, desta insegurança quanto ao amanhã, que brincar com a esperança,
utilizá-la e violá-la me parece de mau gosto.
Agora o que me incomoda mais neste povo
que aguentou 40 anos de ditadura, é sentir a mesma passividade, o mesmo deixar
passar, o mesmo aplauso, o mesmo medo.
Tenho tantas saudades de Abril, onde um
punhado de jovens se colocou ao lado dos desprotegidos que julgo que seria uma
sorte, que uma qualquer empresa, aproveitasse a aldeia da Picha, descoberta há
anos pelo Herman José, e apostasse nela, para ver se os portugueses recuperavam
o que há muitos anos tem perdido. Os tomates. Isso sim, seria recuperar a
esperança.
AM
1 comentario:
Aplaudo em pé, e assino por baixo, este seu texto meu amigo!
Também acho que é isto mesmo que está acontecendo.
Faltam homens com tomates, que enfrentem de caras a vida, que nos está escorrendo entre os dedos como areia.
Onde andam eles?
Ou será que já não os há!
É pena.
Vermos desta forma, perder-se a esperança, a força, e a honradez dum Povo, dum País que é Portugal...
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