viernes, 25 de diciembre de 2020

CATARINA OLIVEIRA, A MINHA COLEGA DE LETRAS E BENJAMIM, JÁ ESTÁ NO MERCADO.

 

CATARINA OLIVEIRA

Ontem estive em Portalegre, com a noite de Natal a chegar, não podia deixar de ajudar a Amélia, na realização de um sonho e compromisso da sua editora.
Fiz de Pai Natal e levei os livros que chegaram a Filigrana Editora pela manhã (atrasados pela gráfica, nestes tempos de pandemia).

Catarina merece, não só pela sua idade, que lhe abre as portas de um dom natural muito cedo (é o seu segundo livro), mas pela qualidade do seu:



Já no mercado, desde ontem e em breve na Bertrand, na Wook e na livraria do site da sua editora.

Para já poderão solicitá-lo à autora ou à sua Editora 


Ambos serão enviados com portes pagos e dedicatória personalizada.




BOAS FESTAS E EXCELENTES LEITURAS!!!
      Descubra a nossa Catarina, adquira o seu livro.





sábado, 12 de diciembre de 2020

A TABERNA DE AVELINO CAMEJO - PRÓXIMO LIVRO - FEVEREIRO - CAP. 30 - OFERTA DE LEITURA


30. Barba e cabelo

- Já vi que com o Senhor Professor, o prometido é devido. Então não trouxe o menino?

- Esse, é a mãe que gosta de lhe cortar o cabelo.

- Ora muito bem, vamos lá então a isso. Pode pendurar o casaquinho, sentar-se nesta cadeira que me acompanha há cinquenta anos. Vou só vestir a bata, pois o Sr. Professor é hoje o meu primeiro cliente, apesar das horas.

Não se sentava numa cadeira daquelas há muitos anos, quando ia cortar o cabelo com o pai ao primo João Lagem, barbeiro, no Arco de Santo António, de um lado uma padaria que fazia boleimas, em frente uma adega, um pouco mais ao lado da adega, a Polícia e o Governo Civil. O primo metia uma tábua nos braços da cadeira onde o pai o sentava e depois aquele castigo de estar quieto, enquanto os cabelos lhe caiam para um gigantesco “babete” que lhe cobria o corpo até às pernas nuas que lhe saiam dos calções.

O pai aproveitava para engraxar os sapatos, num engraxador mudo, que falava com grunhidos e gestos e que João Lagem entendia e traduzia aos clientes.

Estar naquela cadeira era estar sentado na infância.

O barbeiro Durão apareceu, bata curta azul clara, abriu como capote de toureiro uma capa branca e fina que abriu com movimento e lhe envolveu o corpo até ao pescoço. Depois com alfinetes de dama, apertou-lha ao pescoço.

- Ora bem, curto, muito curto ou normal?

- Para já normal, mas depois de me ver, logo lhe direi se corta ou não mais.

- Como o Senhor Professor quiser.

Atanásio era por enquanto o único professor em Aldeia da Pena, embora trabalhasse em Vila Alva. Tentou relaxar, descansar e desfrutar frente ao espelho nicado nas pontas e onde se via, com Durão por trás, pelos lados, passando-lhe os dedos pelo cabelo, segurando-os aos molhinhos enquanto os cortava. A medida dos seus dedos grossos, eram a régua de corte do seu corte normal.

Mas se Atanásio esperava relaxar, enganou-se, aquele não era o lugar próprio, pois Durão falava sem parar, de política, de futebol, do Presidente da Câmara, da Presidente da Junta e perguntava como um verdadeiro inquisidor ao cliente:

- Então já chegaram os elevadores?

- Quantos filhos tem?

- O que faz a sua senhora?

- A casa foi cara?

- Teve empréstimo bancário?

- Como é que Matilde o convenceu a vir?

Meu Deus – pensava Rui Atanásio – o homem não se cala, mas começou a sentir algo de verdade, o fazer parte de um grupo onde as ruas não eram as partes de fora das casas, mas os seus quintais, o prolongamento do seu espaço familiar. Começava a fazer parte de uma comunidade.

A barbearia do Sr. Durão estava toda forrada com retratos em molduras iguais, lado a lado. Começou a contá-las, pelo menos as da parede da frente, pois se movia um pouco a cabeça para o lado, logo a mão pesada do Sr. Durão lhe era colocada sobre ela, rodando-a para a frente, pois estava trabalhando e falar não o distraia das suas responsabilidades profissionais, agora o movimento dos clientes, já o prejudicavam. 

Retomava a contagem dos retratos, sem mais nada para fazer, da parede da frente, seis ao alto vezes dez na vertical seriam sessenta, mais cinco sobre o espelho, bem só nessa parede havia sessenta e cinco rostos a preto e branco. Ainda via pelo espelho outros na parede traseira, mas a mão do Sr. Durão não lhe permitia mexer-se muito.

- Quem é esta gente, Sr. Durão? Amigos?

- Clientes mortos, que ando nisto há muitos anos, e quando se vão peço sempre um retrato à família.

O Sr. Durão pegou num espelho pequeno e colocou-o por detrás da sua cabeça:

- Que lhe parece? Está bem atrás?

- Atrás e à frente, Sr. Durão. Não necessita cortar mais.

Borrifou-lhe o cabelo com água e então, com o pente a duas mãos, definiu um risco e separou-o milimetricamente.

- Se quiser, pode lavá-lo. Vi aí uma bacia e um chuveiro.

- Só tenho água fria, o professor depois lava-o em casa.

Baixou sem avisar a alavanca da cadeira e Atanásio ficou praticamente deitado.

- Vamos à barba, mas primeiro deixe-me tirar-lhe os óculos.

Retirou-lhos e colocou-os na prateleira dos utensílios.

Pegou numa baciazinha onde colocou um pó mágico, e com o pincel da barba, agitou-o e disse:

- Bem, vamos começar – e ensaboou-o, de orelha a orelha, quase até aos olhos, a boca também, que com um lencinho, limpou depois.

O Professor gostava de ver a sua cara, mas deitado, nem se atrevia a mexer-se, quando o viu a passar a navalha, pr'a lá, pr'a cá, com força, várias vezes, afiando-a no couro.

- Afia e limpa, aqui não há micróbio que resista, como dizia o outro – e com uma ponta a segurar o aparelho e a outra ponta encostada ao lado do peito, continuou o pr'a lá, pr'a cá, cada vez com mais força e rapidez, daquela navalha que o professor olhava pelo canto do olho a ser afiada, ao mesmo tempo que pensava – valha-me Deus!

- Bem, vamos começar a deixar essa cara como o rabo de um bebé.

Com uma mão, empurrou-lhe a testa e fixou-a sem a deixar mexer, depois com o pescoço esticado e amovível o cliente sentiu-se como uma galinha pronta a ser degolada, ao mesmo tempo que o Mestre Durão lhe começou a raspar o pescoço de baixo para cima, e diga-se de verdade, que com suavidade, talvez do seu esforço de nem se atrever a respirar, fazendo-o só, quando o barbeiro depois de uma passagem lhe aliviava a testa passando a mão pelo sítio raspado, para sentir se havia algo que não fosse a pele, continuando depois, mão novamente na testa e nova passagem de uma forma mecanizada e lenta.

- A goela já está. Agora a sua pele é dura e é melhor deixá-la ensaboada, pouco tempo, olhe, o suficiente para eu tratar da minha diabetes.

O Sr. Durão saiu até à porta do lado da rua, a taberna de Avelino.

Não sei o tempo certo, talvez entre os cinco e os dez minutos, era demasiado, para estar ali preso, deitado numa cadeira cujas molas estavam de acordo com a idade que tinha.

Foi aí que entrou um cliente:

- Não está o mestre Durão?

- Saiu, falou-me de diabetes...

- Ah! Ele tem que comer várias vezes por dia, vou ter com ele ao Avelino – saiu.

Com o tempo a correr, o professor Atanásio começou a ficar preocupado, teria o Sr. Durão algum problema? E ele ali deitado?

Levantou-se, sem tirar a toalha fina, que o enrolava e apressadamente entrou na porta ao lado, ainda com a cara ensaboada.

- Está tudo bem?

- Ó professor, desculpe, tenho que comer a esta hora.

Estava realmente a comer uma maçã com um copo de vinho na frente.

- Já conhece o Ferreira?

- Sim, entrou na loja e perguntou por si, falou-me da diabetes e pensei, pela demora, que poderia haver algum problema.

- Pois a culpa do atraso é dele, pagou mais um copo e tive que descascar outra maçã.

Avelino estava incrédulo.

- Durão, deixaste o primeiro cliente do teu primeiro dia de recomeço a secar? - depois virando-se para o professor com a cara branca de sabão e toalha pendurada - Ó Sr. Professor, desculpe, eu julguei que estivesse sem clientes, não me disse que o senhor estava lá, e nesse estado.

Meio zangado, retirou o copo do balcão.

- Este bebes depois, eu guardo, que vergonha Durão.

Ferreira interferiu:

- Olha, guarda também o meu.

Saíram os três da taberna e voltaram ao trabalho. Novamente a bata bem apertada que um dos alfinetes estava aberto, com o professor de pé. 

Depois subiu a cadeira.

- Faça o favor de se sentar e desculpe.

Atanásio sentou-se e tudo voltou ao princípio, novo sabão, um pouco menos na garganta, e a conversa, que o homem tinha dificuldade em trabalhar calado e agora com a ajuda do Ferreira:

- O professor está aí para as curvas. Olhe, eu não seria capaz de me levantar da cadeira deitado, isto da idade...

- Nem tu nem eu – disse Durão enquanto lhe colocou novamente a mão na testa e começou a raspar da orelha para baixo.

O Ferreira largou a revista com meses, e espreitou a rua:

- Ena pá, grande carapau!

Não resistiu Durão em vir espreitar à porta também, mas veio logo para dentro, virando com a mão na testa a cabeça do professor para o outro lado:

- Não tens vergonha, Ferreira? É a mulher do Júlio do pomar!

O Professor, achou por bem, desmanchar o seu silêncio:

- Sabem que um dos grandes pintores portugueses tem o nome de Júlio Pomar?

- Ó professor – comentou Durão – nós de pinturas sabemos pouco ou nada. Olhe, a Matilde, Presidente da Junta...mandou entregar tintas para reabrir a barbearia e ainda aí estão - apontou com a navalha.

- Pois olha que tu, deverias saber, que todos os dias mexias no pincel, e pelo que vejo recomeçaste novamente a usá-lo.

Entraram na brejeirice quando Durão respondeu:

- Pois tu há muito que não usas o teu.

- Ah, pois não, mas olha que dos três que aqui estamos, só o professor pela idade dá uso ao seu.

- Cala-te Ferreira, o meu pincel é tão usado como este da barba. Nada tem com a idade.

- Cão ladrador pouco mordedor – respondeu o Ferreira.

Durão não quis adiantar conversas:

- Já está, professor, vou levantar a cadeira para se poder ver ao espelho. Toque na cara.

Rui Atanásio tocou a face e estava lisa, tão lisa como nunca a tinha sentido. Olhou-se ao espelho, enquanto Durão lhe dava nova penteadela.

- Quer laca?

- Não, obrigado.

- Mas a cara ainda não terminou. Tem aqui um pontinho que precisa da minha pedra mágica - e passou-lhe com uma pequena pedra no local do pequenito corte - Agora, sim, está pronto. Álcool ou sublimado?

O professor sabia o que era álcool, que sinceramente não queria usar, o sublimado não, pelo que respondeu:

- Sublimado.

Durão meteu nas mãos um líquido e massajou-lhe a cara. Atanásio pensou “porra que arde!”.

- Já está.

Tirou-lhe a bata e já de pé, escovou-lhe o pescoço puxando-lhe pela gola. Depois com outra escova, esta de fato, passou-lhe pelos ombros, para que não levasse dali nenhum cabelo.

- Os óculos Sr. Durão?

- Aqui estão.

- Quando lhe devo?

- O copo que não bebemos e o Avelino guardou. Venha daí.

Colocou na porta um cartão branco dizendo “Fechado” e que do outro lado tinha escrito “Aberto (estou no Avelino)”. Foi este lado o que escolheu para meter virado para a rua.

Na taberna de Avelino, já havia mais gente, e ele, que gostava da forma como estava a ser aceite, deixou seguir em palavras o tempo que foi passando, pelo que novas palavras mais grossas, as da mulher o esperavam certamente em casa.

- Tenho que ir amigos, tenho a patroa à espera.

Pediu a conta fácil de fazer.

- O professor já pagou duas rodadas. Não tem de pagar mais nada.

Ali encomendava-se por “rodadas” e dos que estavam todos iam pagando uma.

Não se lembrava já noutro dia quanto tinha pago, nem quanto tinha bebido, mas sentia-se bem, como se se sentisse parte de uma comunidade familiar.

Lembrou-se no entanto de ter dito ao Sr. Durão:

- Mestre, para a próxima trago o meu “aftershave”.

- Traga as chaves que quiser que até lhas posso guardar aqui, a casa é sua.

Agora, tinha a mulher que o surpreendeu depois da explicação, a verdade.

- Fizeste bem, Rui, pelo menos hoje não falaste de escola.

                                                              (...)

In A TABERNA DE AVELINO CAMEJO

...em fase de trabalho de oficina...

Nota:

 A Publicar em (Fevereiro/Março) por Filigrana Editora.



 




 

lunes, 7 de diciembre de 2020

A GERAÇÃO QUE QUIS SER FELIZ, DE AVELINO BENTO, JÁ SE ENCONTRA DISPONÍVEL.

 


Avelino Bento, amigo e colega escritor, foi apanhado pela pandemia com o seu livro

                  A GERAÇÃO QUE QUIS SER FELIZ.

Sem ter podido fazer o lançamento deste soberbo livro onde a Guerra Colonial aparece em plano de fundo, resolveu colocá-lo à disposição dos leitores.

Poderão adquiri-lo solicitando ao autor, ou na livraria do site:

 www.filigrana-editora.pt.

Os livros serão enviados assinados, com dedicatória personalizada e com os portes pagos, por Filigrana Editora em parceria com o autor.

Para a próxima semana, já o poderá encontrar na Bertrand ou na WOOK.

O seu lançamento, será adiado para que se não perca a fabulosa atuação da Soprano da Ópera de Roma, acompanhada pelo Maestro Portalegrense Filomeno Raimundo.


https://www.filigrana-editora.pt/livraria/

Para já, pode adquiri-lo.

Boas leituras.

Eu gostei e aconselho.

sábado, 20 de junio de 2020

A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL / OFERTA CAPÍTULO XLVI





                                                      XLVI. De órfã a criada de servir

Por detrás do sotaque de seminarista de Salazar, da guerra livro-os eu, da fome livrarei ou não, Esperança rebentava em beleza, mudava a pele como cobra na primavera, porque era mulher, e a pele de criança sofrida era abandonada porque a de mulher a começava já a arroupar.

Quando as freiras das Criaditas de Santa Zita a encaminharam para trabalhar na quinta de uma ilustre família, ela sabia que era a forma de sair daquele cheiro de velas e incenso, daquele bafio em que a tinham educado para servir homens e mulheres diferentes, não como ela que acreditava profundamente que o seu lugar, no mundo que Deus lhe dera para viver, era aquele, de fita e avental branco, de costuras e de cozinhas, de fazer as camas a quem nelas gozou, e de ser pecado, até mesmo imaginar ser condenável, perante Deus e os homens, aquela sede imensa de que lhe tocassem o corpo, rebelde e espigado em caldeirada hormonal, de quem quer viver, rir, gozar e ser feliz.

Chegou à herdade com as melhores referências das Criaditas de Santa Zita.

As heranças eram (e ainda são), as correias de transmissão das divisões das classes, e no Alentejo, as herdades as suas raízes. Filho de herdeiro, herdeiro nascia, outros, sem nada para herdar, restava-lhes a possibilidade de servir os herdeiros que lhe couberam na herança, não escrita por notário, mas pelo berço.

Assim, sempre assim, até hoje.

A senhora recebeu-a na sala enquanto tomava chá, nessa sala que ela limparia duas vezes por dia, e da qual estaria pendente numa linha reta, a sua, entre a sala e a cozinha.

- Mostra-me as mãos!

Esperança esticou-as.

- Vira-as!

Esperança obedeceu.

- As unhas sempre cortadas, as mãos limpas, entendido?

Esperança baixou os olhos quando a mulher de Romão Papafina lhe ajeitou a touca e lhe abotoou o decote:

- Assim. Botões fechados, que isto é uma casa de respeito – bateu as palmas como quem enxota as galinhas – vamos, vamos, para a cozinha, há muito para fazer e o senhor está a chegar.

O quarto de Esperança ficava no primeiro andar, pequenino, cama de palha e lençóis de pano.

Desconhecia que a mãe, aquela mulher de que se não lembrava, mas que todos lhe diziam ser bonita, como ela, que a abandonou um dia, logo após nascer, para a salvar, pois não resistiria à longa viagem, à longa fuga para a Argentina, às incertezas e obstáculos que se adivinhavam, nunca a tinha esquecido. 

Viveu a infância com os tios, que tudo lhe contaram do pouco que sabiam, mas que vítimas, da malvada tuberculose que andava solta pelo país, a tia, e do álcool, o tio, acabaram por se ver obrigados a entregar a menina ao asilo das raparigas que funcionava na Corredora de cima, frente ao jardim municipal.

Daí até Santa Zita, a escola de hotelaria da época, foi um passo, entre missas e terços.

Quando chegou à herdade de Romão Papafina, nunca poderia imaginar que a mãe, quinze anos antes, fizera parte daquela casa, sendo rainha do quarto grande e do coração do patrão.

Não o sabia ela, nem a senhora virtuosa que lhe mandara mostrar as mãos, nem Romão Papafina, que apenas viu nela, uma bela moçoila, pronta para ser devoradamente submissa.

(...)

in A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL
Filigrana Editora

miércoles, 10 de junio de 2020

REABRIU. JÁ PODE EDITAR OU TRADUZIR O SEU LIVRO. VEJA COMO.



A editora onde edito os meus livros, deu-me segurança, participação total em todas as fases e apoio nas apresentações que fiz, de Portalegre a Campo Maior, de Ovar até Zurique e Timor-Leste. Mas deu-me mais, a proximidade com outros seus escritores que passaram a ser família.
                                                                                                      ARAGONEZ MARQUES

Como Fazer?

Veja o seu site www.filigrana-editora.pt e veja quem é.

Contacte através de mail infofiligrana@filigrana-editora.pt   mas também pelos telefones:

964 149 081
268 689 221


Filigrana Editora fala diretamente consigo e ajuda no que pretende.


Irá dizer-lhe que não é necessário fazer 1000 livros, que quantos mais melhor preço, com ela vai ouvir o contrário, fazer quantidades de 100  e se precisar de mais, os que entender, nem que seja só um, que será entregue numa semana.Terá a grata surpresa de ver que os que pedir mais sai mais barato pois o mais barato é a impressão e o resto do livro foi pago nos primeiros que fez.

Será feita uma leitura prévia da obra e em 3 dias telefonamos nós.

Filigrana Editora tem contractos com os melhores ilustradores para as suas capas, que seguem as ideias sugeridas pelos autores, com os melhores paginadores que transformam o seu manuscrito em livro e as melhores impressoras a quem entrega o livro pronto e imprime com técnicas actualizadas, estas fora do país o que mesmo assim permite que os seus livros possam ser entregues entre 15 e 30 dias.

Antes da ordem de impressão, o autor ou autora, recebe um livro completo, acabado e perfeito como a filigrana portuguesa, uma amostra e só a sua ordem perante a editora, leva a que se dê o aval para a impressão.


A partir daqui os livros são seus e mesmo que a editora venda algum na livraria do seu site, é a si que é pedido e pago.

Filigrana Editora apoia e divulga todas as suas apresentações.

Temos protocolos com várias livrarias, de norte a sul, Suiça e Timor-Leste.

Mas para saber tudo, pois cada livro é um livro, fale com a Coordenadora que está sempre por trás dos telefones e do computador.


FILIGRANA EDITORA E TRADUÇÕES

Se tem poemas ou livros que queira traduzir, a editora tem um serviço de traduções e de envio para concursos de conto e poesia em Língua Castelhana.
Muitos dos nossos autores têm ganho prémios fundamentalmente em concursos de poesia.
Peça informações caso esteja interessado/a.

...eu estou muito grato a Filigrana Editora e nesta reabertura depois da pandemia, só quero estar com os meus colegas escritores/as no jantar que Filigrana está a organizar para nos juntarmos todos, com as nossas famílias e logo agora que fui avô pela primeira vez na minha vida.
                                                                                                                   Aragonez Marques



jueves, 4 de junio de 2020

A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL / SINOPSE / CAPÍTULO 65 / OFERTA DE LEITURA





SINOPSE

A descoberta de uma falange, de uma falanginha, de uma falangeta e de uma rótula, nas valas onde se enterravam os porcos durante a calamitosa Peste Suína Africana, leva-nos a descobrir uma aldeia que cresce graças a uma Santa que foi enterrada viva.


Uma carta recebida da Argentina empurra-nos para uma ferida aberta pela guerra civil espanhola que influencia Portugal clandestinamente. 

Uma emigrante que limpa o pó ao "abuelo" embalsamado. 

O primeiro amor de Perón. 

Behamonde o herói aviador republicano, irmão do general Franco.

O acidente do avião da Madeira.

Pinceladas de Buenos Aires, Açores, Mulhacén, o Vale dos Caídos, La Roca de la Sierra, mas também Arronches, Elvas, Portalegre, Ribeira de Nisa... Alentejo.

Cheiros de um tempo em que as criadas de servir serviam para tudo, criadas por quem serviam. 

Uma escola reprodutora do sistema com personagens que o mantinham.

Uma igreja que se cansava de manter um regime.

Personagens de loucura, Cinha Cinhona, o Engoletudo, Paulo Macedónia, o primo Júlio, o padre Cabral, a Dona Antónia, o Zé da Coelha, Papafina de Jesus, o Ventoinha, o Zarolho, o Espanhol, Salazar o Cigano, Patrocínio Marques casada com Salustiano Perez Román, o sargento espanhol, e muitas outras, que se cruzaram, se tocaram, mas não se encontraram. 

Um romance vertiginoso onde se misturam tempos e memórias e onde a Mulher, nua e crua, é central no desenrolar da história que se conta.

A Mulher do Sargento Espanhol é ficção pura, marioneta nos dedos da realidade.

A Mulher do Sargento Espanhol é um livro para quem gosta de se perder no passar ritmado das páginas, uma aventura de leitura, um tambor tocado pelo destino.


OFERTA DE LEITURA


65. O pacífico e a úlcera.

Tinha razão Patry, João Maria Relvas era mesmo um homem bom, ninguém lhe conhecia conflitos. Afastava-se deles. Esquivava-se a dar opinião, não julgava nada nem ninguém. Afastava-se mesmo das pessoas a quem adivinhava fervura. Tirava-as do seu caminho como quem cura uma gripe. 

Tinha sempre um sorriso, um cumprimento e uma úlcera. 

Por isso nada entendeu como naquele dia se alterou, ao ponto de tocar a violência.

O Barata tinha nascido torto. Sem sorte mesmo, uma paralisia infantil, chamada pelos cultos de poliomielite, atacou-lhe as pernas e porque a vacina das gotinhas amargas ainda não tinha sido colocada na língua, começou a roer-lhe as forças, ao ponto de se dobrarem e não se terem em pé. 

Meteram-lhe uns ferros como andaimes que nasciam de umas botas grossas e o Barata, passou a infância correndo como um robot com umas pernas com talas metálicas, esqueleto fora da pele com parafusos de aço. 

Fazia tudo o que faziam os outros, mas sempre de uma forma rectilínea, direita e fria. 

Nos jogos da bola, era um defesa exímio, que os adversários evitavam pela dureza da pancada das botas. 

O corpo, torre Eiffel de duas patas, duras e dolorosas para quem as investia ou era investido. 

Mas não eram só de ferro as partes exteriores das suas pernas, também por dentro, peito, alma e coração eram de metal. Cresceu odiando a vida, revoltado com ela foi ganhando ódio e quando acabou sentado numa cadeira de rodas, que movia dando à manivela centrada à altura dos braços, vendendo lotaria, a sorte grande para os outros, esse ódio era já doentio e soltava-se-lhe da língua através de insultos, ameaças, despropósitos que se lhe perdoavam atendendo à sua limitação física. 

Com o passar do tempo, ia piorando e passou a ser insuportável, ao ponto das pessoas mudarem de passeio quando ele circulava, de rua quando se adivinhava e até de jardim, largo ou avenida quando a sua presença se denunciava. 

Não fossem os peregrinos da Santinha Queimada e as lotarias não se venderiam e o Barata não comeria, pois só com os da terra seria impossível, sendo muito raros os que não tinham sentido já o ferrão, deixado pela vespa da ponta da sua língua.

Naquele dia, coube ao pobre do João Maria, que se cuidava em não molestar vespa nenhuma, incapaz de matar mosca ou mesmo pisar formiga, apanhar pela frente o azedume do Barata, reforçado ainda por cima, pela valentia da companhia de quatro ou cinco fedelhos adolescentes, que no risco do gozo do pisar a linha da delinquência social, se juntavam ao Barata, colocando-o no centro da anormalidade de grupo, com que desafiavam descobrindo, o ócio irracional das borbulhas na cara, sem entender os porquês dos corpos que se transformavam, rebentando em fealdade, como girinos.

- Então não trazes a velha? Ainda fazia um par de meias solas, boazona como ela está…

Não foi com meias solas, mas com solas inteiras que o pacifico Relvas atacou à biqueirada e depois das patadas aos guarda-costas juvenis, agarrou o Barata pelos colarinhos e com a mão solta aventou-lhe dois estalos, um de cada lado:

- Toma e toma, que não és aleijado das bochechas.

A aldeia comentava com gosto, as lambadas do Barata como se de toda a gente fosse o gostinho.

Parece que desde aquele dia, a úlcera de João Maria Relvas, deixou de incomodá-lo, como se tivesse sido curada milagrosamente pela Santinha da terra, e se duraram pouco os comentários sobre o acontecido entre o Barata e o Relvas, foi porque se aproximava o dia do julgamento de Papafina de Jesus e se faziam apostas, agora mesmo com valores que se viam, sobre a origem dos ossos, que como os ferros das pernas do Barata, tinham Papafina de Jesus aparafusado ao medo e pendente do laboratório criminal, que tardava e tardava, a dizer de uma vez por todas de quem eram os ossos e quem os enterrou. 

Tudo se ouvia e de tudo se falava. Afinal aquele "prazeirinho" de meu caro Watson que todos carregamos, andava solto pela aldeia. 

Ouviam-se histórias e identificava-se a vítima, adivinhavam-se culpados, afinal o que se sabia era intrigante. 

Sabia-se ser uma fêmea, sabia-se a década e meia que teria na hora da morte e sabia-se até, maravilhas da investigação científica, que estava grávida, imaginem morta tão nova com um filho dentro. 

Não poderia haver perdão para o enterrador, embora a todos parecesse que Papafina de Jesus fosse incapaz de tamanha monstruosidade.

(...)

in A MULHER DO SARGENTO ESPANHOL
Editado por Filigrana Editora

viernes, 29 de mayo de 2020

A TABERNA DE AVELINO CAMEJO / CAPÍTULO 16 / OFERTA DE LEITURA





16. Os primos

Avelino Camejo não era muito de cemitérios e por isso, os funerais eram algo que o faziam, sempre que possível, não estar presente.

Foi ao do senhor José, não por ele, mas por Dona Beatriz, tão velhinha que se adivinhava não ir viver muito mais depois daquele desgosto, o que se veio a confirmar dez dias depois, por Preciosa que se encontraria orfã e sozinha no mundo e por Sebastião, com mãe já num lar, pois começava a não conhecer ninguém, a esquecer-se da vida e muitos dias até do filho e foi, porque Matilde, indignada lhe disse claramente:

- Não penses nem vir!

Foi, mas ficou para último à saída da igreja, vendo de longe o sofrimento de quem acompanhava o defunto, acompanhando à distância as lágrimas de Preciosa, mas deixou-se ficar no final do cortejo, feito a pé, desde a igreja até aos ciprestes, naquele último passeio de quem não passearia mais. 

Depois, já lá dentro, num repente que não gostaria de ter tido, acendeu-se aquele neurónio intermitente que às vezes o fazia ter a sensação de conhecer a mulher de Sebastião. 

Estava mais velha, era verdade, as feições mudaram com o tempo, mas naquela fragilidade de menina sofredora, reconheceu-a.

Voltou atrás no tempo. Àquele verão caloroso. O tio morrendo na cama do hospital, a tia Pituca sempre ao seu lado, ares condicionados todos sem trabalhar, suor empapando a morte no terceiro piso do hospital:

- Quero falar com o Picado antes de morrer, vê se o encontras Avelino.

O Senhor Picado, mais conhecido por “Pica-Peixe”, era um grande amigo de José Boavida, anos de paródias, pescarias e conversas. 

Foram fundadores do Clube de Pesca da Cidade cujas estantes estavam recheadas de taças e troféus, poeirentos.

Avelino foi a sua casa:

- O meu tio quer falar consigo.

- Como é que ele está desde esta manhã?

- Piorou, a minha tia chamou o padre para lhe dar a extrema-unção. Tem que vir Senhor Picado, pois a última coisa que quer é falar consigo.

- Vamos no meu carro - e montaram-se no Fiat 850 cinzento do Senhor Picado.

- O pior é parar com tantos espanhóis a comprar atoalhados, cães de loiça, terrinas floridas e relógios de banho de cobre e estilo barroco.

- Fico no carro, se vier a polícia tiro-o.

O Senhor Picado subiu as escadarias de granito do hospital, margeadas de arcadas de mármore, que unidas, faziam um corrimão frio de largura razoável.

Cruzou-se com Pituca na escadaria larga e segura, majestosamente segura:

- Vi-os chegar da janela do quarto, sobe Picado, eu vou ter com o meu sobrinho, vou a casa buscar uma ventoinha. O calor é demais.

Podem ter demorado cerca de uma hora, pois Pituca, já que estava em casa, não resistiu a fazer um chá de camomila com gelo e bebê-lo calmamente desfrutando do sofá da sala.

Falou com Avelino:

- O tio Zé já não sai do hospital, nunca mais ficará sentado nesta sala. Quando eu morrer estás a ver este quadro?

Era uma moldura pequena que envolvia um alfabeto desenhado e bordado a ponto cruz. 

Pituca tirou-o da parede, por trás, forrada a fita-cola estava uma chave.

Avelino ficou surpreso.

- Só tu é que sabes, esta chave é da gaveta de baixo da cómoda do quarto do meu querido João Fernando, onde tu ficaste como filho que o meu coração adoptou. Dentro está um testamento que fiz com o teu tio há alguns anos, pouco depois de mudarmos de cidade.

Avelino ouvia pasmado e com atenção.

- Está dentro de um envelope lacrado e leva-o ao Dr. Sampaio, que sempre foi o advogado da família, ele saberá o que fazer com ele.

- Tia Pituca, mas a tia está viva.

- Graças a Deus e bastantes anos Deus ainda me traga por cá. Digo-te isto pois morrerei na tua casa, para onde quero ir. Um dia que eu me fine (benzeu-se), nesse mesmo dia, quero que venhas aqui e tranques a porta da minha casa. Não deixes entrar ninguém, nem mesmo da família. Ninguém mesmo. Tiras a chave do quadro e levas o testamento. Depois só abres a casa após a sua leitura pois o original ficou com o advogado e cópia no tribunal. Prometes?

- Sim tia, prometo.

- Bem vamos lá buscar a ventoinha que o Picado, sedento como é e sem uma cerveja à mão, deve estar contando os minutos.

Ao chegarem ao hospital o Senhor Picado já estava na rua, esperando, branco como a cal da parede e chapéu na mão, dando passos para a frente e para trás como um soldado de guarda à porta de um quartel.

Pituca:

- Está tudo bem?

- Sim, deixou-se dormir e o calor era muito...

Virou-se depois para Avelino que levava já a ventoinha na mão.

- Depois de montar isso no quarto, baixe, eu fico aqui, preciso de lhe falar.

Quando Avelino, Pituca e a ventoinha chegaram ao quarto, o tio estava deitado de lado, olhos abertos, mas sem conseguir falar, a mulher fez-lhe uma festa, ele agarrou-lhe a mão e colocou-a nas costas.

Pituca começou a coçá-lo o que lhe parece ter trazido mais alívio, fechou os olhos e apenas se sabia que estava vivo porque respirava alto, grunhidos, como os porcos das matanças, já depois da faca espetada, esperando a morte.

Avelino tentou fugir dali, mas dava-lhe pena a tia...

- Vai Avelino, vai ter com o Picado que algo te quer, a tia fica bem e também preciso ficar sozinha com ele, porque o tio não passa de hoje. Fez-lhe uma festa na testa enquanto com a outra mão, lhe coçava as costas menos suadas.

Notava-se a ventilação da ventoinha.

Avelino saiu daí e desceu as escadarias duas a duas, precisava chegar à rua, de se sentar, de fumar um cigarro, de ver gente e carros a passar, de ver vida.

Picado quando o viu, foi direito a ele, estava aflito, com o lenço limpava a testa mas também a espuma dos cantos da boca.

- Entre para o carro Avelino, conduza, nem sei como lhe dizer isto. Arranque a caminho da Aldeia do Cano e quando sair da cidade, pare à beira da estrada pois tenho algo muito importante para lhe contar e tem que me prestar atenção.

Avelino arrancou, mas intrigado perguntou:

- Alguma coisa de grave?

O Senhor Picado respondeu apenas:

- Porque me escolheu a mim para uma coisa destas? Vamos ver se chegamos a tempo.

- Onde?

- Pára o carro quando puderes.

Já na estrada, aproveitou uma entrada para um monte que tinha um portão fechado e uma pequena entrada já fora da estrada e meteu o carro aí. Travou-o. Desligou o motor.

- Conte Senhor Picado, não aguento a curiosidade e o seu aspecto é de que algo de grave se passou. Foi a conversa que teve com o meu tio Zé Boavida?

- Dá-me um cigarro aceso.

- Mas o Senhor Picado não fuma.

- Pois vou fumar. Conheço o teu tio há mais de cinquenta anos e nunca me falou deste assunto, que desconhecia completamente, mas que me meteu numa hora destas dentro dele. Pediu-me que não contasse a ninguém, nem a ti, mas caramba és um homem e eu não me sinto preparado para fazer sozinho o que ele me pediu. Vem comigo por favor e nunca contes à tua família, pois é um segredo que só ele e Pituca sabem e que Pituca nunca o deixou tão pouco pensar nisso, nunca mais, quanto mais falar. Um segredo que preciso que me ajudes e esqueças também. Disse-lhe que sim, para não o deixar morrer com esse remorso de consciência. Bem, Avelino, tens uma prima.

- Tenho várias.

- Sim, mas tens uma do teu tio, filha de uma criada que lá trabalhou em casa.

- O meu tio com uma filha? Da criada? Porque precisa de me contar?

- Porque tens que vir comigo à Aldeia do Cano, procurá-la e dizer-lhe que o pai está a morrer e quer vê-la.

- Não lhe pediu a si? Não lhe contou a si? Que vou eu lá fazer?

- Ajudar-me, não me deixes sozinho, não tens que dizer nada. A mãe chama-se Beatriz, casou e a menina, deve ter agora mais de vinte anos, Quem a perfilhou casando com a mãe, chama-se João. Só temos que perguntar pelo sítio onde vivem, pois compraram uma quinta próximo da Aldeia.

- Tenho mesmo que ir?

- Agradecia-te muito.

Avelino meteu de novo o carro na estrada e chegando à aldeia foi fácil saber onde moravam. Era uma Quinta grande. Pararam longe do portão da entrada, viram gente a trabalhar e uma moçoila, franzina e loira sobre um trator.

 Fizeram sinais. 

Chamaram:

- Ó da casa! Ó da casa! – enquanto levantavam os braços para serem vistos.

A rapariga olhou, apesar da distância e do ruído do motor da máquina e aproximou-se. 

Tinha um chapéu de palha e uns olhos azuis que não deixavam dúvidas quanto ao pai. 

O trator ficou ao lado do muro.

- Precisam de alguma coisa?

Foi o Senhor Picado que falou:

- A menina deve ser filha da Senhora Dona Beatriz...

- Sim, sou eu.

Picado continuou:

_ Trago-lhe uma notícia triste, o seu paizinho, José Boavida, está a morrer no hospital da Cidade e queria vê-la antes de fechar os olhos para sempre.

Empertigou-se, levantou-se do banco, ficou de pé sobre o trator, zangada mesmo, revoltada e a perder as estribeiras. Apontou para o fundo da quinta onde um homenzito cavava:

- Vê aquele homem ali a trabalhar? Esse sim é, e será sempre o meu pai, criou-me e deu-me amor. Diga isso a esse senhor e que morra rápido, que o inferno o espera há muito tempo.

Meteu a primeira no trator e começou a afastar-se, terra abaixo, recomeçando o trabalho como se nada se tivesse passado.

Picado e Avelino ficaram a olhar um para o outro.

- Que fazemos agora?

- Nada. Eu digo-lhe que a não encontrei, não lhe dou um desgosto destes.

Não foi preciso, pois quando chegaram ao hospital, já Pituca se agarrou a eles, ainda o viram, mas já morto.

- Foi melhor assim – pensou Picado.

Aquela cara ficou-lhe escondida na memória, era ela, Preciosa, a mulher de Sebastião era filha do tio José Boavida e só ali, naquele funeral triste, olhando para ela, chorosa mas altiva, recebendo do coveiro a chave da urna, triste pelo suicídio, se deu conta de onde a conhecera.

Quando se despediram no fim do enterro, abraçou-a e beijou-a, mas por dentro sentiu-se envergonhado, quase culpado, pelo que quando abraçou Sebastião teve que dizer-lhe:

- Amigo, logo que te sintas melhor, que tenham feito o vosso luto, temos que falar.

Abraçou-o com força:

- Lamento imenso!

                                                               (...)


in A TABERNA DE AVELINO CAMEJO
A publicar por Filigrana Editora