PANTEÕES
Agora, está na moda o Panteão Nacional.
Podemos estar anos sem ouvir falar dele, e de repente, zás,
tudo e todos para o panteão, desenterrados e reencaminhados, com cheirinho a
Inês de Castro.
Eusébio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Aristides de Sousa
Mendes, Irmã Lúcia, Capitão Salgueiro Maia (…) Acho que sim, até porque
com tanto português ilustre nascido nas últimas décadas e com o facilitismo com
que se pede e pelos vistos concede, a subida ao altar civil, deveria estar ao
alcance do comum dos mortais, como aliás, parece ser o que pretende a maioria
do povo português, carente como anda de heróis, já mesmo sem esperança em manhãs de nevoeiro, que os candidatos ao heroísmo épico destes
últimos tempos, são foleiros e não merecem confiança por pantomineiros.
Foram bem ensinados, como Jotas, ex-JSD, ex-JS, ex-JCP… beneficiaram
dos melhores professores, hoje todos bem na vida porque aprenderam o
Abracadabra de Ali-Babá.
Somos governados por Jotas, o pior que foi criado pelos
partidos.
Vasculhamos assim os mortos recentes, os que a memória ainda
recorda, pois os outros, num país com uma partilha cultural deficiente, estão
esquecidos e dificilmente se irão da lei da morte libertando.
Passamos assim a recolher nomes, esfomeados de pátria, para
os ungirmos com o óleo dos reis.
Seria Portugal o mesmo hoje sem Eusébio da Silva Ferreira?
Julgo que sim. Sem Sophia? Parece-me que também. Sem Aristides ou sem Lúcia?
Talvez sim, que sei eu? Que sabemos nós? Se não demos tempo ao tempo?
Destes nomes, soprados e circulantes pela net, terei que
reconhecer que Portugal, seria melhor ou pior, mas sempre diferente do que fora
até aí, se Salgueiro Maia se não tivesse cruzado na história, pelo que concordo
com o poeta Alegre de nome e carrancudo de semblante, o poeta da voz de
barítono e levar o capitão de Castelo de Vide para a Capital, deitando-o para
sempre junto de outros portugueses ilustres, não me espanta, achando-a mesmo
uma decisão acertada.
Já sobre Sophia, a quem respeito como um grande nome das
letras, a quem admiro pelo legado que nos deixou, causa-me dúvidas pelo
precedente que abrirá, na medida em que a considero pertença de um lote de
grandes nomes da literatura, como Torga ou Saramago e poderemos causar
injustiças de dano a nomes de vulto como Eça, Pessoa, Nemésio, Natália Correia,
Florbela, Romeu Correia, tantos e tantas… felizmente, que será bom parar de os
nomear para evitar omissões certeiras inevitáveis, pela qualidade do mundo das
letras portuguesas, vivos ou mortos.
Não podemos enviar esta malta toda para o jazigo público,
pois correremos o risco da banalização.
A ida de Sophia para o panteão, será um precedente, como o
foi Amália e abrirá portas até agora impensáveis de abrir.
Foi uma figura notável, sem dúvida, de que a nossa língua se
tem que orgulhar, mas quantos portugueses apenas conhecem a poetisa por ser mãe
do quase bonito (segundo ela), jornalista e comentador, pioneiro com Sócrates
no ataque cerrado aos professores, o primeiro passo para a destruição da escola
pública?
São famílias de elite, que ainda por cima sabem escrever,
amando ou mordendo com a pena e o tinteiro.
Foi arquivado o seu processo de apalhaçar Cavaco Silva,
privilégios, que não tem o cidadão Carlos Costal, 25 anos, de Campo Maior que
no dia 10 de Junho, em Elvas, mandou o Presidente trabalhar, chamando-lhe gatuno e que à data de hoje, continua a ser
mordido pela justiça, perseguido por um presidente pequenino e herói que não
larga o moço, como osso, sabendo que daí nada tem a temer, o que o leva a
manifestar o seu ódiozinho, cobardemente, com quem sabe ser mais fraco e
desprotegido.
Tal como Amália abriu as portas a Eusébio, deixando caminho a
Ronaldo um dia que bata a bota, também Sophia abrirá portas a todos os gostos,
e depois dela, obras de melhoramento e acrescento no panteão, que muitíssimos
ilustres lhe baterão à porta. A pedido. Negociatas de parlamento, que o
parlamento é o povo. Assim um pouco como as insígnias pátrias, ordens e
comendas, nas mãos desta gente. Moeda de troca ou agradecimento pessoal…
A não ser, que tudo isto se trate de uma estratégia para que
os portugueses e portuguesas recuperem a auto-estima. Tal como “santos podemos ser todos” parece que
nos estão a estimular “panteados
poderemos ser todos também”.
Nasce assim uma esperançazinha, de que depois de uma vida de
merda, possamos aspirar a um descanso eterno e reconhecido.
Já a igreja nos ensinou durante anos a fazer o mesmo, ser
humildes, trabalhadores, bonzinhos, sem refilar, que depois tínhamos o céu.
Por mim, dispenso altares e panteões, prefiro sinceramente
que me devolvam os 200 € que me roubaram de novo este mês.
Deixem-me viver tranquilo, que depois de morto, logo se verá.
ARAGONEZ MARQUES
1 comentario:
Estás no auge... "santo" !
Bjnho
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