FIGURA DO ANO
Depois do assalto coordenado
às janelas e varandas de Norte a Sul, das bandeiras de um país que pretendia
ganhar no futebol, vimo-nos novamente assaltados pelos pais natais chineses,
trepando escadas e cordas, sacos vazios às costas, imobilizados, como na pausa
de um CD.
Competiam nessa guerra com
os panos vermelhos do velho natal da velha religião, com um menino de loiça,
corpo de três meses e cara e cabelo de três anos, dedos em V, terninho,
loirinho e branquinho.
Os barrigudos anões, foram os primeiros a
chegar, barba branca, óculos, barrete vermelho e branco, e vieram em
contentores, pelo mar e não pelo céu, de barco e não de trenó, mas logo de
seguida numa luta absurda, chegou o retrato do menino, e ambos disputaram um
espaço de montra, nas fachadas das casas.
Alertava o pároco para a
importância do Natal, para o nascimento do Menino, que os faziam ser donos da
tradição, e ali estavam os panos, vendidos na sacristia, seda vermelha, menino
gravado, a seis euros primeiro, baixando a quatro depois, à medida que a Noite
Santa chegava.
Reproduziram-se nas ruas,
nas avenidas, nas casas do Largo, aquela invasão de gorduchos atacantes de
varandas e janelas, como pequenos marcianos vermelhos, mais trepadores que
voadores.
Reproduziram-se os panos como bandeiras,
tapetes voadores vermelhos verticais, com um Aladino ocidental deitado.
A disputa foi continuando,
pela conquista dos espaços, e agudizou-se quando os chineses de Badajoz,
começaram a vender os panos vermelhos, iguaizinhos (apenas em vez de “Feliz
Natal”, tinham “Feliz Navidad”).
Estalou a guerra total,
quando as lojas chinesas de cá, passaram a vender os panos de Feliz Navidad, de
lá.
Pai Natal anão de escada e
pano vermelho Feliz Navidad, de um lado, pano vermelho Feliz Natal, do outro.
As beatas garantiam que os
panos espanhóis eram falsificações fabricados na China, por crianças sem ir à
escola, por pessoas sem direitos no trabalho (como aqui?), por isso serem tão
baratos, a comparar com os da sacristia.
- Os nossos são de seda, e o
senhor padre mandou-os vir de Leiria.
- Ó vizinha… mas olhe que se
não fossem os dizeres, eram iguaizinhos…
Não tem esta nossa igreja,
mais nada para fazer, com os desempregados, situações de pobreza e medo por
trás daquelas janelas e varandas, do que emoldurar por fora, maquilhando, o
quadro da tristeza.
Estávamos mesmo necessitados
de um Papa chamado Francisco.
Também o nomeio figura do
ano.
ARAGONEZ
MARQUES
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