viernes, 14 de septiembre de 2012

A MINHA NÚMERO CINCO, ENTROU HOJE NA ESCOLA



A minha número Cinco ontem,
 hoje entrou na escola,
 onde se vestirá de pastorzinho no Natal 
e de morango no Carnaval

Começou hoje aqui a escola e julgo que aí também. A minha número Cinco, entrou no primeiro ano, um passinho de uma longa caminhada.

Agora irá aprender a ler, a escrever e esperemos que a ser.

Irão cair-lhe os dentes, o sinal de partida para a queda da inocência e para o colar de oiro da madrinha.

É a primeira vez, que levo uma filha à escola. Como professor, tinha que receber os pais de outros meninos, pelo que nunca acompanhei os meus.

Estive nervoso toda a noite. Eu também queria entrar hoje na escola, mas não me deixam, dizem que não estou bem da cabeça, que não posso interromper os medicamentos, e com o passar do tempo, começo a acreditar que não estou bom, nem que seja pelo ouvir tantas vezes o mesmo.

 Desde há uns anos para cá, quando chega Setembro, sinto-me muito melhor e cheio de vontade, nem que seja por vício e ilusão, de recomeçar a fazer o que sempre fiz, mas em escolas muito diferentes das de hoje.

As de agora, sinceramente, não me tornam feliz lá dentro e uma escola, onde professores e alunos não são felizes, apenas é escola de nome. Aliás, é tremendo este fingir lá dentro de que todos estão felizes.

Cumprimos calamos ou fugimos, mesmo que se veja como no Natal, para fazer uma árvore ecológica, se vão comprar garrafões de água, para os recipientes serem as ramas.  Fazemos reciclagem. A água? Nao queremos perguntar. Também não me perguntem qual a escola, porque hoje, infelizmente, são muitas as que nos carnavais, outro suplicio e arte de sermos obrigados a parecer felizes, se correm as avenidas, com os  meninos cansados e chorosos, vestidos de morangos, ananases e bananas, trajes que as senhoras fizeram e as câmaras pagaram.

Sei que não estou bem, mas esta não é a minha escola, mudei, andei por várias, todas iguais, ou parecidas ou umas mais iguais que outras, e outras mais parecidas do que iguais, no fundo os mesmos óculos verdes para que a palha pareça erva.

Depois, o mais que consigo é chegar ao Carnaval, no último ano, nem consegui tanto. É uma luta na cabeça entre o quero e o posso. Querer quero, depois já não quero, depois posso, depois já não posso.

 Agora entrou a Cinco, nesse mundo de jograis e jogos florais uma vez por ano, na festa, onde os pais podem levar as máquinas fotográficas, aí como aqui, professores ainda mais sérios que no último ano. 

Entraram os meninos, fecharam os portões e mais nada. Com cadeado.Será a próxima ideia para um novo livro e o titulo, esse mesmo.

 Com Cadeado.

 Ainda não fui à cama. Queria entregar a Cinco, entrar com ela na escola, ver a sua mesa, conhecer os seus amiguinhos, ouvir a voz do seu professor. Noite em branco para uma escola cinzenta logo no primeiro dia, e isto, na primeira vez em trinta e quatro anos que pude acompanhar uma filha à porta do segundo e mais longo capitulo da sua vida.

 Pela noite, tentando vencer a insónia, descobri um papel escrito, feito quando a Quatro entrou na sua escola, e onde se misturou a escola dela com a minha, e a minha com as nossas e numa esquizofrenia descontrolada, sem pastilhas nem psiquiatras, as nossas com a minha primeira, a minha primeira com o tempo e o tempo comigo mesmo. Deixo-o aqui. Um poema, eu que não sou poeta e apenas escrevo livros. Se virem a minha mãe, digam-lhe.
Um abraço.

não oiço o pêndulo do relógio da sala
nem o avé, de hora a hora, nos corredores
... é sinal de que já não estás

não vejo a cortina do quarto a destapar o sol
nem o sumo de laranja numa bandeja que reflecte o dia
... é sinal de que já não estás 

não cheiro o pó de arroz quando me dizes adeus
nem a cebola, o café e os coentros do teu avental
... é sinal de que já não estás

não sinto o metálico da tesoura nas unhas húmidas de Sábado
nem o pente no cabelo molhado dos Domingos
...é sinal de que já não estás

não saboreio a sopa de mogango e baldoregas
nem o feijão com couve e peixinhos da horta
...é sinal de que já não estás

nunca mais me mandaste dar corda ao relógio
levantar-me porque são horas
despedir-me porque até logo
assear-me para cheirar bem
comer de tudo para ter uns olhos bonitos

porque é que já não tenho o teu colo no bolso do meu bibe?
porque já não me levas à escola mãe?


A.M.
Setembro de 2006

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