Sabíamos que algo se passava. Agora temos a certeza. Novo livro de ARAGONEZ MARQUES em breve nas livrarias portuguesas. Não temos toda a informação, mas diz-se que o prefácio é de Rui Cardoso Martins, e que será editado por Colibri. Todo o Portalegre reunido num livro em que a cidade está por fundo. Logo que tenhamos certezas, informaremos. Para já, conseguimos (não perguntem como) um primeiro olhar sobre o livro. Esperamos com expectativa.
ARAGONEZ MARQUES,
adora surpreender.
1.
Na década de sessenta, Portalegre era uma cidade organizada, sustentada por uma industria que garantia o trabalho, a fábrica dos tapetes (tapeçarias de Portalegre onde começaram a trabalhar em exclusivo as primeiras mulheres), a fábrica de lanifícios, a fábrica da rolha, a Finicisa,empresas de construção, o Malcata, o Emílio Castro, que construiu um grande edifício em frente ao mercado com um parque infantil original, logo apelidado de Aldeia dos Macacos, onde brincavam poucas ou nenhumas crianças pois ao ser de cimento, partiam braços, cabeças e pernas com facilidade, um comércio ativo, sem a concorrência dos supermercados onde os comerciantes, gente séria que vendia fiado, era avalista da luz eletrica e do contador da água dos seus clientes, frente à Hidro ou aos Serviços Municipalizados, e polícias, muitos e barrigudos os conhecidos, de chapéu, gabardina e gravata os outros que adivinhávamos, que auxiliavam essa organização.
Os dias corriam iguais e lentos, interrompidos de vez em quando pela fuga de casa de um adolescente, um suicídio ou um par de cornos.
Havia médicos que casavam com filhas de médicos, professores que casavam com professoras, agricultores que casavam com filhas de outros agricultores, enfermeiras que não podiam casar e operários que casavam com toda a gente disponível depois da tropa cumprida.
Médicos os Sampaios, com a Casa de Saúde como catedral, agricultores um par deles, donos das terras e das casas brasonadas ainda heranças feudais, professores,Nunes, Serrotes,Pestanas,Barrocas, Cardosos, Castros,Salgados, Bacharéis, Fonsecas, Matos, Pratas, Martinós, Matelas, Raimundos,Freires, Patés, Mouratos, Heitores, Patrões, Mouras, Natálias, Quezadas ,Moreiras e Martins... alguns que passaram a raia da simples escolástica, Régio, Tavares, Garcia de Castro, Pestana, vários apelidos que a malta naquele tempo se reproduzia mais do que agora e os professores chegavam todos os anos e ficavam. Hoje já não chegam tantos, os que há são da terra, filhos e filhas da cidade antiga.
Havia bons e maus, como em todo o lado, mas os que mais admirava eram os rompedores silenciosos dos tabus, das ordens e do sistema rotineiro, mesmo que o empregado do Café Central lhes servisse o vinho da serra, camuflado em chávenas de café.
Juntavam-se no Marchão, a tasca citadina de mais êxito, pelos reservados que tinha depois de subir as escadas por trás do balcão. O vinho do melhor e venerado, um dia pedi um traçado e quase me puseram na rua. Tinha as melhores empadas, rissóis e pasteis de bacalhau do burgo e era o sitio preferido dos intelectuais que desciam a Rua do Comércio com cara de pau, gravata e lenço branco no bolso e aí se escondiam para rir, para despir o ar sério necessário nesse tempo para se ser levado a sério, até porque depois de uns copos e quando as aparências já não eram possíveis de se reconstituírem, havia sempre a porta traseira do Marchao, aberta à rua que baixava da Igreja de S. Lourenço e podia-se sempre dizer que se tinha acabado de vir da missa, ou de se ter acabado de confessar ao padre Jorge, que com os adultos não sei, mas com a catraiada, transformava o confessionário em inquisição erótica.
Tens maus pensamentos? Tocas no teu corpo? Brincas aos médicos com as tuas primas? Qual delas?
Sacana de padre.
Eu era um puto nesse tempo e frequentava a casa porque era amigo do Quim, o filho do Sr. Marchao e acompanhei de perto muito dos despires dos cinzentos, a que a cidade obrigava os seus mais ilustres.
Conta-se que um dia, esteve aí o dr. João Tavares, com uma série de amantes dos pincéis que tinham vindo à Fábrica dos Tapetes, para verem ser reproduzidas, a ponto, obras suas e estava com eles, uma jovem e promissora pintora, que com o adiantar dos risos e a desinibição do vinho, riscou a parede branca com vários rasgos a preto, numa composição organizada no caos.
Diz-se que quando saíram pela porta de trás como era habitual, o Sr. Marchao chamou a mulher e disse-lhe: Cada vez estão piores, agora temos que ser nós a caiar esta merda. Assim fez, cal por cima e parede limpa de novo.
Soube-se mais tarde que o Sr. Marchao tinha acabado de borrar o maior chamariz para o seu negócio. A jovem promissora chamava-se Helena Vieira da Silva.
Mas continuemos com a cidade onde a deixámos.
Enfermeiras, não eram assim muitas, pois as freiras, normalmente espanholas, faziam-lhes concorrência no profissional, não no número de afilhados.
Os operários e operárias eram a maior parte dos habitantes da cidade.
Havia também pequenos negócios, poros necessários à respiração de uma comunidade, por todos conhecidos e que faziam parte da cidade como o Plátano ou a Fonte do Rossio.
Carnes e enchidos, o Vitalino, o Brito, o Zé Maria do Talho... os sapateiros, o Sr. Lagarto, o Sr. Adriano... mercearias de bairro, o Camejo, o Carichas, o Alegre... tabernas, upa! Uma por rua.
Ourives. o Cabecinha, o Áreas, o Garçao....
Cabeleireiros, O Relvas monopolizava.
Os alfaiates, o Traguil, o Moutoso... mais tarde o Parreira (mestre em vestir noivos já na sacristia das igrejas). Os alfaiates eram pescadores, juntavam-se com o grupo do Pica Peixe e do Carvalho, pintor de automóveis ao lado da Fabrica Real, onde tinha o Feijão como ajudante e que acabou por ficar com a oficina quando o Carvalho, apertado pela mulher pela vida mulherenga que tinha, ou largamos a terra ou largo-te a ti, acabou por recomeçar a vida fora de Portalegre, não com muita sorte, diga-se, pois perderam o único filho que tinham num acidente de carro. Este grupo de pescadores fundou o Clube de Pesca Desportiva da cidade e eram o terror dos cardumes fluviais que trocavam por taças e troféus.
Os carpinteiros, Manuel Azinhais, Milhinhos...
As barbearias era onde giravam as histórias e quase todos os barbeiros eram músicos de banda.
Os jornais desportivos e de âmbito nacional, tinham o Pintassilgo que os enfiava à hora do almoço nos vidros dos carros dos clientes fixos à porta do Café Alentejano e só depois, fazia o percurso do resto da cidade.
Os jornais locais eram semanários, O Distrito de Portalegre e a Rabeca.
Escrevi nos dois, no Distrito, com catorze anos já o fazia. Tinha uma pequena coluna chamada “Postal de um Vicentino”. Nessa coluna também escrevia o meu pai e tudo isto, porque ele pertencia às conferências de S. Vicente de Paulo e um comerciante de todos conhecido, o Sr. Umbelino, que doava aos pobres 3% do seu negócio, criou um grupo de Jovens Vicentinos, Os Samaritanos, que chegaram a ter uma equipa de futebol, com as camisolas pretas e amarelas, as cores da cidade.
Com a cunha dos dois e o despacho positivo do padre Patrão, passei a escrever aí, assinando por José Semeia.
Depois passei à Rabeca, com a aprovação do Scopeli, sobretudo cinzento gordurento, tapa misérias vestido todo o ano, óculos cu de garrafa e cabeça sempre baixa. Na tipografia tinha o Sr. Cara d’Anjo que me corrigia os erros ortográficos enquanto compunha os textos letra a letra, apertados na caixa que entraria na máquina tipográfica.
Na Rabeca escrevia o que me dava na gana, tudo se publicava, pois as páginas tinham que ser cheias até quinta-feira e escrevinhadores havia poucos. Deu-me a possibilidade de assistir grátis aos espectáculos de Teatro de Revista quando desciam de Lisboa até à cidade e estacionavam no Cine Teatro Crisfal. Entrevistei a Simone de Oliveira, quando estava boa como o milho e a grande Laura Alves, que me fez umas declarações sobre o Dr. Mário Soares e das criadas fardadas que tinha em casa quando ela aí ia jantar, apesar de socialista. Nessa altura a Dª Elisa controlava a informação da Rabeca. Vi que o Scopeli já não me dava tanta liberdade de escrita e foi quando me apercebi que o controleiro mor e perpétuo do Partido Socialista em Portalegre, o Júlio Calha, tinha também aí um dos seus tentáculos. Sai e mudei-me para os Jornais de Elvas, mas isso são outras histórias.
Várias eram também as Sociedades Recreativas, onde os bailes eram calendarizados do princípio até ao final do ano. A Sociedade Alentejo, a Euterpe... e até o Palácio Amarelo, onde se organizavam os bailes sociais dos mais abastados, antes da construção do Clube de Ténis onde os referidos mais abastados, desceram um escalão por não serem convidados. É que aí, era mesmo a nata gordurosa de quem controlava a cidade.
Também havia bailes na Cooperativa e nos Bombeiros.
O Clube Desportivo Portalegrense era mais dado a organizar bailaricos que o Futebol Clube Estrela ( o meu estrelinha brilhante ), pelo que muitas foram as vezes que tentei jogar fora de casa e acabei expulso.
Nos anos sessenta, Portalegre era uma cidade burguesa, mas aberta e cosmopolita à primeira vista.
Havia portugueses de várias regiões do país, espanhóis refugiados da guerra civil, ingleses relacionados com a fábrica da cortiça, franceses que montaram a Aliance Française.
Havia também pretos e mulatos pertencentes à elite profissional e cultural, os irmãos Próspero, um médico veterinário e o outro engenheiro, Director dos Serviços Florestais. Lembro-me também das glórias do Benfica que vieram colocar o Estrela na primeira divisão e acabaram a descer a equipa à terceira. Nesse tempo, Eusébio, Coluna... fizeram parte da cidade. E havia o inolvidável Professor Du, professor e treinador de natação que muito fez por Portalegre e a quem eu, pessoalmente agradeço saber nadar.
Agora também é verdade dizer-se, que nao era uma cidade cor-de-rosa.
Vejo-a nesse tempo como uma mistura de verde, preto e branco. Verde pelos militares que chegavam e partiam do quartel todos iguais, os magalas. Preto e branco pelas fardas das empregadas domésticas, criadas nesse tempo, sopeiras também, a quem os magalas perseguiam nas horas de ócio.
A mistura das três cores dará um cinzento esverdeado.
A miséria que envolvia a cidade, levava à existência das Criaditas de Stª Zita, escola e agência de emprego de raparigas para todo o serviço, na zona do Rossio, em frente às retretes públicas.
Ali iam as Senhoras contratar as criadas, que levavam para casa a troco da comida e de alguns escudos que eram dados às famílias, que ainda agradeciam haver quem as criasse.
Aqui, começava a descobrir-se a parte imergida do icebergue, que apresentava ainda dois orfanatos, um de rapazes e outro de raparigas e bairros de lata envolventes, em especial na parte detrás do cemitério, onde estava a lixeira a céu aberto.
Este “parece que está tudo bem”, era representado pelos órfãos fardados a rigor do asilo, tocando e desfilando pelas ruas da cidade, pelos rapazes e raparigas da Mocidade Portuguesa, verdes, com o grande S de Salazar nos cintos de couro cantando... minhas botas velhas cardadas... e desfilando bandeiras pátrias, também a Legião Portuguesa se aventurava no desfiladeiro, caricata, gordos, altos, magros e bêbados. E tudo desfilava, ruas abaixo e ruas acima.
Era o Desfile Nacional reproduzido provincianamente.
Afastados para os arredores estava o Bairro de Sº Bartolomeu e a Vila Nova, onde a pobreza era visível.
Nos finais de sessenta e princípios de setenta, a cidade começou a mover-se, lentamente, a JEC Juventude Estudantil Católica e a JOC Juventude Operária Católica, influenciadas pelos acontecimentos da Capela do Largo do Rato, por uma igreja que nao esquecia D. António Ferreira Gomes, o Bispo do Porto exilado por Salazar como resposta a uma carta em que chamava a atenção para a miséria em que viviam os Portugueses, começou a movimentar a Cidade.
Apareceram timidamente as acções de alfabetização, feitas por voluntários, mas é com o aparecimento do Bairro do Atalaiao, com um enérgico Padre Bugalho na animação da Igreja de S.Cristóvão, onde Domingo a Domingo as pessoas acudiam cada vez em maior número, vigiadas pela Pide (Policia politica para quem se nao lembre) a quem o padre convidava a sentar nos bancos da frente em absoluto desafio, e com a construção do Centro Cultural do bairro, que as classes operárias deram um passo gigantesco na conquista de espaço citadino na parte visível do icebergue.
Eu vivia nesse espaço visível.
Para além das muitas escolas públicas, onde os meninos eram obrigados a entrar calçados (ao contrário da casa da minha ex-sogra), com banquinhos onde os punham à entrada e tiravam à saída, Portalegre tinha também duas escolas privadas, controladas pela igreja, que sempre apostou, desde que saiu dos claustros para as primeiras escolas jesuítas, levadas a todas as partes do mundo pelos seus missionários, no ensino, como caminho para o mais fácil controlo dos sistemas em que pretendia estar inserida, e a Igreja, estava inserida no pulsar da cidade. Aí vivia o Bispo, no Paço Episcopal, ao lado da Sé Catedral, com vista para a Serra da Penha com a sua cruz plantada no cimo.
Para além de Capital de Distrito, a cidade era também sede da Diocese de Portalegre e Castelo Branco.
Um luxo.
Havia assim o colégio das raparigas, na Corredora, tendo uma frente virada para a porta principal da Casa de Saúde Madalena Sampaio, e parede de quintal a meias com o quintal do meu avô, sempre à briga com as freiras pela rama da romãzeira que lhes espreitava o pátio, e eu com ela, e o colégio dos rapazes, na encosta da Serra de S. Mamede, no Convento de Stº António, depois ocupado pelo Hospital Psiquiátrico, mais conhecido por todos, que me perdoem, por Hospital dos Malucos.
O sucesso destes dois estabelecimentos de ensino, em pouco tempo os fez necessitar de novos espaços e com o crescimento da cidade serra acima, já com o Seminário a funcionar e a zona do Bonfim a ser base dos prédios novos, deu início à construção de dois grandes e modernos colégios privados desenhados em luxo arquitectónico desde a raiz, o Colégio Diocesano de Stº António, para onde passaram os alunos do Convento que deu o nome à nova escola e o Colégio das raparigas para onde foram as freiras acompanhar as meninas da Corredora, na zona do Bonfim.
Estava mal colocado. Hortas por todos os lados e com a agravante de termos que pagar as favas. O vizinho hortelão, na altura das favas, aproveitava sempre para chamar a polícia, quando passávamos à noite pela sua plantação, guitarras na mão e capas negras aos ombros a caminho das janelas dos quartos das meninas do colégio a quem cantávamos esganiçadas desgarradas cheias de amor´ apenas com três posições de viola ensinadas pelo velho Raimundo (velho carinhosamente).
Depois chegava o Nívea (o carocha de fabrico alemão azul e branco da polícia), éramos identificados e já está. Os pais a pagar as favas ao homem e nós a levarmos com as fivelas dos cintos dos pais.
Era cíclico.
Os colégios tinham dado o passo de aproximação aos seus utentes, professores e alguns alunos ( a maioria vinham em regime de internamento de todo o País ), que eram já residentes da parte nova da cidade, conhecida pelos Prédios Novos, e que faziam realçar uma classe média que se afastava da cidade antiga, histórica e plebeia, para um novo espaço onde a Árvore do Rossio passou a fronteira.
Mas havia boa relação entre os dois novos espaços, desde que se tratassem os doutores como e por doutores, os professores como e por professores e claro os engenheiros, mesmo que regentes agrícolas (a mitra de Évora), geralmente filhos com orelhas de burro de lavradores abastados, por senhores engenheiros também.
Os serviços da cidade nao acompanharam o movimento desta elite que se emancipou e passou para lá da Árvore do Rossio, pelo que nenhuma entidade bancária curiosamente se moveu, nem mercearia, nem talho, nem sapataria, mas também se manteve a Escola Técnica, o Liceu, o Magistério e os cafés também ficaram todos. O Facha, o Luso, o Central, o Victoria, o Alentejano e as cervejarias, o Plátano, O Melhor do Mundo... nem um passo.
Até o Pintassilgo com os jornais nao passou do Rossio, nem as livrarias, o Zé da Roque, o Zé Maria Alves, o Silvino, tudo ficou.
Também os Correios, as Finanças e a Câmara Municipal ficaram.
Os Bombeiros Voluntários também.
Ficou tudo.
Tal facto obrigou a que a cidade se relacionasse e os Prédios Novos dormiam durante o dia, pois a vida continuou na parte antiga. Na nova, os colégios, mas onde os rapazes e raparigas viviam em clausura.
Só mais tarde, com a demolição da cascata no cimo do jardim, onde os meninos do colégio e da escola da fontedeira mergulhavam as mãos para aliviar o calor das réguadas, é que se construiu o Tarro, o café que durante anos foi ponto de encontro dos habitantes do novo espaço.
Mesmo com a demolição da Fontedeira e a construção do novo hospital, que acabou com a horta do maneta, do Hotel do homem do charuto que competia com o Levita em corpulência, com o fim do campo da bola que deu lugar a nova urbanização, com a construção da zona desportiva, estádio, pavilhão e piscina perto das traseiras do colégio das raparigas e do faval das favas pagas, a cidade mostrava-se reticente em passar o Rossio.
Fê-lo a medo os Correios, deixando o Largo das Laranjeiras e subindo duzentos metros para além do Grande Plátano.
Fê-lo depois a Caixa de Previdência, abandonando a Corredora e passando para a Zona do Tarro e do Hotel.
Seguiram-se novas escolas já na década de setenta, e mesmo hoje, a Câmara desceu a Rua do Comércio mas virou à direita instalando-se na antiga Fábrica Real, sem coragem para subir a Avenida da Liberdade..
Este manter a cidade velha com vida, nesse tempo, foi importante para o continuar da respiração dos portalegrenses a um só pulmão.
Mesmo a procissão, nunca chegou ao fim da Avenida, pelo que o Senhor dos Passos continua sem conhecer os Prédio Novos.
Nota:
Não tem oficina feita, mas permite adivinhar o que Aragonez Marques nos vai dizer, ou recordar.
RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO- Livro de Aragonez Marques a sair em Outubro.
Oferta Gratis de livros aos primeiros dez (10), interessados a solicitarem o livro para traztraz.net@gmail.com (enviar nome e domicílio)
No hay comentarios:
Publicar un comentario