jueves, 6 de septiembre de 2012

NOVO LIVRO DE ARAGONEZ MARQUES COM PORTALEGRE POR FUNDO / RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO




 RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO

 Livro
 de
 Aragonez Marques 

a sair em 
13 de Outubro.

Prefácio de:
Rui Cardoso Martins


(...contra a sua vontade, mas por vontade da família... e conselho médico)

Pode já Reservar
 traztraz.net@gmail.com
 (enviar nome e domicílio)
Amelia


 in RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO - Aragonez Marques - 2012 ( a publicar )

12.

   O Dia estava a querer mudar.
 Começava a sentir-se forte trovoada, manifestada por ronronares distantes que  seadivinhavam, para além da massa cinzenta que começava a pintar o céu de negro.
 Continuava a procissão a passar, indiferente ao tempo, e indiferente ao tempo também, vi a Júlia.
   Deve ter mais vinte anos do que eu.
   Lembro-me dela, deveria ela ter a minha idade.
   Era bonita, com um sinal  grande na testa que lhe poderia diminuir a beleza do rosto para alguns, mas para outros, onde me incluía, sentia esse sinal eroticamente atraente, dando-lhe um ar oriental que as mãos frágeis tentavam confirmar enquanto o corpo a  latinizava, desmentindo-lhe a orientalidade da aparência.
 Mocetona, mulherão, bem constituída.
 Lembro-me da” menina Júlia”, trabalhava ela e brincava eu.
 Portalegre é uma cidade onde se perdeu muitas das boas coisas que tinha.
 Imaginem que em 1965, data que me lembre pelas contas mentais que faço, existia em pleno jardim da corredora, uma biblioteca pública.
Outros tempos...
Cercada de grandes bancos de pedra sombreados de onde sobressaía a imagem de José Duro, uma biblioteca, onde nós rapazes sem televisão, requisitávamos os livros de Emílio Salgari e os devorávamos debaixo das árvores.
As pessoas de idade, levantavam aí os jornais da época e enchiam os bancos de leitura.
Uma biblioteca no jardim.
Lá trabalhava a Júlia.
Aproveitando esse espaço, o senhor Setoca, com a sua bicicleta de pedais com caixa refrigeradora, vendia os gelados. No Inverno, trocava o produto.
   - É o barquilho Americano!!
   - Dona Júlia, posso levar este livro para casa?
   - Não, tens que o ler por aqui. Depois amanhã voltas e o resto da história aqui está que eu não a deixo fugir.
Passávamos ali as tardes. Dias. Semanas. Era ali que nos encontrávamos com Júlio Verne, Anna Sewell, H.G. wells, Sir Walter Scott, Lewis wallace, Sir Arthur Conan Doyle, Mark Twain, e também com Júlio Dinis e com sorte  “ O crime do Padre Amaro” a obra requisitada às escondidas de Eça de Queiroz.  
 Depois à noite, um pouco mais abaixo, por trás da Fabrica Real, onde nasciam as tapeçarias que deram fama à cidade, o cinema ao ar livre.
 Também era a menina Júlia que vendia os bilhetes, a meias com o Senhor Relvas que durante as tardes e as manhãs levava as cartas às gentes da cidade que conhecia por tu e ainda aproveitava os fins-de-semana para vender os bilhetes da bola. 
 Quem tinha dinheiro para entrar, ali ficava gozando as noites quentes de Verão, imagem gigante projectada numa enorme parede branca, enquanto por cima as estrelas cadentes faziam os sonhos acercarem-se às fitas.
 Quem não tinha trepava o muro, iludindo o guarda de serviço que muitas vezes fechava os olhos, ou então, aventura das aventuras, subíamos para os andares da torre preta de madeira queimada, que servia para os treinos dos bombeiros voluntários.
 Do último andar via-se tudo.
 A cidade era nossa.

in RETRATOS DE GENTE EM PROCISSÃO - Aragonez Marques - 2012 ( a publicar )

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